sábado, 16 de agosto de 2008

Desconcerto

"coincidência: simultaneidade de dois acontecimentos; concordância; justaposição; identificação de duas ou mais coisas; acaso"


Não há por que muito matutar, não há jeito. Ao fim a lógica se rasga e os sentimentos nos traem. Resta a escolha. Acreditar, ter certeza, duvidar. E cada um é na verdade a mescla dos outros dois.

O conceito de simultaneidade ganha importância e 'coincidência' enquanto palavra perde força. Perde a carga esotérica. Pois significa tão somente que acontecimentos se deram em simultâneo.

O importante mesmo é o que se faz delas. Das coincidências. Elas sozinhas não fazem nada. Elas nos são o cenário.

Segundo meu conceito de simultaneidade, coincidência é o acaso; e o acaso enquanto agente transformador é na verdade uma personagem cega, surda e louca. Fala, mas ninguém entende direito.

Acontece com 'coincidência' algo similar ao que se dá com 'praticamente'. Quando algo é 'praticamente' impossível de ocorrer, fica-se com a idéia de que seja 'quase' impossível. Mas, não, trata-se de algo impossível de acontecer 'na prática' - não ocorre é de forma alguma. 'Coincidência' tem distorção análoga - ora 'incrível', ora 'mera' - e não sei qual que é a verdadeira.

Meus amigos, sobram búzios e cartas e velas no mundo que tentam entender por que assim é que se dá... e eu tento também - procuro na palma da minha mão e nos capilares dos olhos, nas melodias que sinto e ouço, no cheiro de tudo, no gosto do beijo e na memória... ah, na memória...

Não há mesmo jeito, tudo é coincidência e discutir isso é uma grande bobagem. Simultaneidade é uma imposição forte demais. As coisas acontecem e isso basta.

Nada é coincidência. "Sejamos todos clandestinos em nosso ser e íntimo pensar. Há mais sinceridade nas coisas que não se permite." Escolhi o vermelho-sangue, deram-me um um verde bonito. Verde das ervas-finas. Verde como a esperança. Verde como a esperança.

Segundo meu conceito de simultaneidade, coincidência não é puro acaso; longe disso - somos traços e rabiscos. Imagens e semelhanças que por igual ensaiam dos seus também. Rascunhos descontentes.

Muito preguei que as coisas sempre aconteciam da melhor maneira possível e só não nos dávamos conta disso. Foi um achado. Atirei no que vi, acertei no que não vi - se é que isso é uma coisa boa. Na época, traduzia um otimismo bobo e sem fundamentos teórico-práticos; era meu modo dizer ao mundo que eu estava contente com a vida que levava. E quando não mais estive, para onde foi a bonita frase? Neguei-a. "(...) acreditar que as coisas acontecem da melhor maneira possível é um clichê agradável que não me consola mais, mas que respeito." De fato, "Narciso acha feio o que não é espelho". Mas agora não mais. Sim, elas acontecem da melhor maneira possível. E justifico como puder. Com paixão para os céticos, com ripidez para os namorados, com embasamento científico para as crianças. Com crença, certeza e dúvida para mim.

4 comentários:

raquelholanda disse...

anda colhendo, ou escolhendo, ou compartilhando meus trechos?
uma dúvida, Senhor: estou pautando suas idéias é?!
estou movimentando suas idéias e a sua performance com as palavras?
estou? estou?

th. disse...

É inevitável e sem remédio. :P

Versar sobre coincidências eu tinha em mente há um tempo, elas muito têm me surpreendido - até lhe disse em blog seu. E, juro, só me surpreendo mais mais. Porque agora me dei conta de que quando lhe elogiei olhar que não é seu, não tinha ainda lido o 'antropologia ... II'. !

raquelholanda disse...

há mais concidências?

em verdade eu quis dizer que nem o olho, nem o olhar fotografados são meus, mas o olhar fotográfico por trás das lentes, sim é meu, bem como o texto e seu conteúdo.

sim, eu adoro que v. use os trechos meus. e fragmentos e palavras avulsas e pontuações e tudo o mais. comentou que me roubará o título “sr.& sra.”. vá em frente, quero TER a sua versão. use, use mesmo e sempre, até quando não mais puder. :p

é impressão minha ou há alguns ruídos em nossa comunicação, ou será só de minha parte? sobre o blog “inaugurálias em verso” mandei um e-mail como v. solicitou. chegou até v.? em todo o caso, transcrevo aqui:

olha, acho que confundi foi tudo. achei que o post "marina" era o primeiro daquele blog, mas depois do seu comentário é que vi que não. já dei uma olhada em tudo lá. boa proposta essa "poesia entre amigos". quer dizer que vc gerencia? rsrsrs. ok.
outro equívoco: achei que o nome do blog era "inaugurálias em verso" estou errada? chama-se guinaluar ou guina luar?
não sei, estou confusa.
sobre a parceria, sim, eu topo. porém, terei que mandar os versos antes para o garoto th que gerencia, para que ele possa avaliar o conteúdo e tudo o mais, já que meu forte não é a poesia, e sim, a prosa. então, talvez ele desista do convite. tudo bem não vou me magoar. mas ainda não desista th, deixe eu te mostrar ao menos?!
(obrigada pelo convite, fiquei mto feliz! feliz por agradá-lo, feliz por agradar alguém com as palavras que uso.)

em meu blog, v. falou de duas idéias: a da proposta do guina, e uma outra que lhe é um devaneio, “mas quem sabe”? então conte-me, faça-me a indagação? quem sabe?!

aaah, eu não sou loira, mas às vezes demoro a compreender, afinal, em que parte das suas descrições (no orkut) de “coisas das quais não vive sem” tenho contribuição? é mera participação ou posso me sentir? calma. claro, por ter merecido a referência - mesmo que oculta. em qual palavra (s), está a prova? rsrsrs.

th. disse...

Haha, não tem ruídos não. É que sou um mensageiro fuleragem mesmo. Emails, recados. Ora instantâneos, ora atrasadíssimos. É o caso do email, tenha paciência! :P
Recebi-o sim. :D

Ah, tinha entendido bem então. Que o olho fotografado não era teu, disseste-me; já do texto e do olhar "fotografador", não tive dúvidas - dá pra ver você ali, não seria de outrem. :)

Quanto à descrição, bem, enquanto escrevia, conscientemente, a referência que percebi como direta foi o final "o olhar - olhos não; o olhar", mas agora vejo que outros bem funcionam, e constrangedoramente bem - como bem o fazem todas as coincidências; falo de "o virtual, o fingimento sincero ou a sinceridade fingida (escolhe o que lhe for um elogio) e a amizade forçada (ou o contràrio disso - em referência ao nosso 'começo')". :D

Em breve te escrevo com a idéia 2ª e sobre a proposta do guina (afinal, é guina luar ou guinaluar?), moça.