quinta-feira, 26 de março de 2009

5.Restos

(Sobras de Rascunho)

[o mar] avançava ávido e tremuloso - feito coveiro que como qualquer outro faz seu trabalho, feito pai que incrédulo busca sem querer o corpo de sopro do filho vazio, feito mãe que incrédula nem vai; ou feito filho que quer brincar com bicho morto, baratas e formigas, o inseto que for; feito túmulo vivo que vem, cata e vai. *


é texto que este deveria ser, a versar sobre o avanço - ou recuo - do mar no quebrar de ondas várias e de como ele, agitado, incontido, faz-se onda e se desfaz, mergulhando na areia, para de novo avançar - ou recuar - aos poucos, respigando em nós um pouco do que falaria noutro texto, que é este. A onda, só num instante certeiro é que se percebia a forma espiralada em perfeita configuração. **


* Acompanharia #3 (Ventura).

** Idéia outra para #4 (Fim).


segunda-feira, 23 de março de 2009

Bobo eu

Numa madrugada de banheiro, não me perguntem o que eu lá fazia, uma borboleta insurgiu desvairada e, sem dar-se conta de mim, ao mesmo tempo que me assustando um monte com rasantes desnecessários na orelha, esborrachou-se na lâmpada acima da pia. Fez porque quis, via-se. Porque fez uma, duas, três vezes, quatro e continuou fazendo. Fingidamente fugia e sem demora estatelava-se sem dó mais umas tantas outras vezes.

Ri, quanta tolice. Borboleta boba. Se pousava, por instantes poucos era, pois queimava-se no bulbo e recuava - para em seguida regressar. Muito desejava ir à luz, imagino, mas, se vez após outra queimava-se no bulbo, por que a insistência? Sabia da dor.

E assim zunia, estalava, tropegamente voava, aquietava-se e regressava. Sua reincidente dor eleita.

Mas observei também que, como eu a observá-la, borboleta alguma poderia estar comigo num dia em não madrugada e, ela sim a me observar, risse de como eu me esborracho e insisto e tanto desejo o que me dói.

Da luz que tanto me queima saberia ela mas, atônita, duvidaria ser meu comportamento mera tolice.

Reavaliaria seus limites ao ver os meus: minhas corroídas asas já não podem ser vistas.

terça-feira, 17 de março de 2009

Um Novo Sol em Mim

Quando bem cedo o sol amarelava e a todos assim se fazia mostrar, eu me levantava antes mesmo de acordar. Agora não mais. Levanto-me junto com ele, acordo bem antes de levantar e me levanto tão logo acordado, pois muito de amarelo também eu tenho e muito mais amarelo pretendo ficar.

Amarele você também e se permita ser da cor que for.

quarta-feira, 4 de março de 2009

Lembrete

Já hoje o céu estava um tanto como pasta de dente daquelas que exalta a proteção anti-cáries, porque em paralelas o azul entrecortava as nuvens. Se o céu fosse verde, seriam tiras verdes no pastoso das nuvens: pasta de dente de maior frescor, de combate ao mau-hálito então.

Acordar pouco depois das cinco não me agrada. Às vezes é fome, às vezes é pesadelo. Às vezes é azia e levanto só para cuspir. Às vezes é sede. Sempre é às vezes algo que me rouba minutos de sono.

Mas compensa ver o sol vindo lá de baixo e longe onde é garantido ser o leste.

O sol nascendo me é um lembrete de que ainda é cedo. De que devo voltar a dormir. E vou sem escovar os dentes.

segunda-feira, 2 de março de 2009

_ Dois milhões de anos de Brasil e nunca que alguém precisou de um negócio desse pra levantar sobranc... os cílios. Aí agora tem essa frescura... curvex... Por que não usa aquele... aquilo, o rímel?
_ brasil tem quinhentos anos.


_ Dois milhões... é Cristo, né?
_ dois mi... é, dois milhões.

domingo, 1 de março de 2009

Freud tentou

Aí o dia amanheceu amarelado. Amarelado quase verde. Porque não era aquele amarelo-sol - amarelo de sol, do sol, por causa do sol - estava muito era nublado. Pareciam as janelas todas com filtro de - qual mesmo aquele chocolate de embalagem dourada? Sonho de valsa? ... Ouro Branco! Pronto. Parecia o mundo revestido com celofane amarelo, ou todos nós de novo crianças a brincar com a embalagem de bombom na cara. Digo, nós, crianças, mas sei que se eu dissesse, ninguém concordaria ou entenderia. Acho que ninguém acordou na mesma hora que eu pra ver. Talvez, mesmo se tivessem acordado. Devo eu ter esse jeito único de ver cor no raiar. Muito a frente do meu tempo, é isso que sou. Mas um dia vão perceber e precisar e dar o merecido valor. Vão dizer "eita, e essa cor ali? entendi não". E haverá quem explique "sabe o armário que guarda o pó de café? o pó em si não é daquela cor à toa...".