quarta-feira, 3 de junho de 2009

Louco

Deitado, quase dormindo, sinto-me varrido; lençóis e tudo ao meu redor, vai-se tudo... a areia me cobre e estou então entre dunas e sol. Com medo do que me acordou, ergo devagar a cabeça por cima dos ombros. Viro para o lado que o vento sopra - muito sol, a vista dói. De joelhos, sem entender, arranho com força o chão, que sobe com o vento, que aumenta e ergue mais areia, pronto: vejo-me envolto num turbilhão. Estupefato, balbucio um palavrão que não termino: minha careta se congela e, como um enxame sólido, a areia que me circunda invade-me pela boca. E não para. Um interminável soco na cara; pelos olhos e pelo nariz, cada grão com violência...

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Quanda acaba, o nada. Estou só. Sem cama, sem areia, sem sol. O piso é liso e cinza e se estende para todos os lados. Está o mundo inteiro em mim, se é que já não estava, se é que é mundo o insólito, o sonho besta? Algo me golpeia o estômago, num relâmpago, ao redor tudo escurece, caio de joelhos - ânsia de vômito. Respiro, respiro. Um fio de areia escorrega de minha boca. Respiro fundo - outro golpe - mais areia. Sinto que vai piorar e de súbito, minha boca se escancara e põe para fora de uma só vez meu lençol e a cama feita. Um mundo me pesa no peito.

Quem de longe me visse veria um prédio numa implosão às avessas, do chão se erguer.

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Respiro. Recompor a paisagem. Recompor a paisagem e voltar a dormir.