sábado, 13 de dezembro de 2008

_tive agora uma sensação que remete àlguma sensação que eu já... senti... antes.
_Não entendi.
_algo me lembrou uma coisa que eu sei já ter sentido. o nome é déjà vu, não quis usar um termo que o senhor não iria entender.

Olhos bem abertos:
_E eu estou sentindo como se estivesse na lua e quisesse ir para Marte. Mas eu não vou. Eu não vou. É muito longe.
Levanta-se e sai.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Mimética Urbano-Moderna

Noite dessas me deparei com o que seria uma cena fantástica: sete coelhos na calçada.

Dirigia sozinho num trânsito de início de noite onde tudo era luz de postes e faróis. Nalguma hora daquelas que a fila não andou foi que os vi. Não acreditei. Todos lá, alvinhos. Pareciam querer atravessar a rua.

Coelha-mamãe à frente e seus seis filhotes pequenos. Bolotas brancas de uma brancura nada vermelha em meio a tantas luzes vinho-rubro-enegrecidas: eram-me o repouso dos olhos e do espírito. Deus queira eles ainda estarem lá quando eu passar.

Deus quis e não quis.

O mundo não poderia estar assim tão mudado. A vida dá limões aos montes quando se quer gotas de mel. Não ia ser dessa vez diferente.

Os ventos movem-lhes as orelhinhas, que na verdade são alças. Sem mais arrodeios, meus coelhos estão podres por dentro como minha cidade está podre por fora; o olhar cansado de um motorista míope não haveria de encontrar nada além de uma sempre azeda confusão de formas e cores. Bem intencionado que fosse. Eram sete sacos de lixo.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

_ já me dói ficar sentado esperando ser avaliado como se minha vida dependesse muito disso; parece até que não estou me preparando para viver, mas para as sistemáticas avaliações.
_Mas tem que ter; é todo mundo querendo seu lugar ao sol.
_o sol nasce pra todos.

_Eu disse sol?
_foi.
_É sombra.

domingo, 30 de novembro de 2008

Cruzador Em Mim

_E agora que me percebo o peito livre, dói essa outra dor no mesmo lado esquerdo. Dor que dói em forma de Cruz, centrada na minha têmpora esquerda, com a base quase a se apoiar na boca. É torta a Cruz, é divina a dor. E, eu sei, o que fiz, o que queria fazer, o que deixei de fazer, o que deveria ter feito, tudo é razão para que ela se faça, mesmo que não seja ou mesmo não sendo, e sei que não é, específico o ato, porque não precisa ser: a dor é assim, como o gosto do sangue quando se corta o lábio, elevação na testa quando se bate a cabeça; não é castigo, é resposta. É, é. E na minha Cruz se pendura um rapaz do tamanho de um feto, que vai e vem e puxa e estica, modela e belisca como quem desconhece - e despreza - a dor que o outro sente. Por isso dói. Ele é um rapaz do tamanho de um feto, feto magro, feto miniatura, homem-esqueleto feto, que é tão ele mesmo, feto, quanto a Cruz que o sustenta e, sendo a Cruz a minha dor, dói em mim o que em verdade ele quem sente. Corpo intruso, persistente, vivo, frágil; em contato ao frio - tentei afogar o insuportável em compressa gelada - tremeu, contorceu a si e, convulso, agarrou-se a minha dor, sua Cruz, não como Aquele, mas como uma criança que abraça forte a mãe; abraça forte a mãe, de costas para o mundo. E, se nele doía, dóia em mim.

Três dias durou.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

antesdoá

Não lembro como se deu o trajeto das idéias, mas noite dessas fiquei a matutar sobre respostas para 'O que vem antes da letra A'. Não há sentido algum na pergunta, eu sei, e exatamente por isso foi que dediquei tempo considerável na elaboração de respostas. Em geral, achei-as ruim. Mas tomei nota.

Antes da letra A vem uma suspeita, uma intenção, dois olhos arregalados, uma boca semi-aberta.

Antes da letra A tem a margem de onde escorre tinta e sangue.

Antes do A vem um cacarejo rouco, seguido de outros dois em melhores condições.

Antes do A tem o silêncio.

Antes do A vem a dúvida, um gesto incerto, o medo de errar, a certeza de que não há resposta certa.

Antes do A vem a sede, a fome que não se explica, o choro convulso, compulsão, a vontade de dizer.

Antes do A tem qualquer coisa. Qualquer coisa.

Antes do A, há o que há entre e une a carne ao osso.

E há pixels luminosos em branco.

Há a sabedoria plena, a pureza do sentimento. Há um mundo de palavras sinceras.

Antes do A não há sentido. Sonho e beliscão.

Antes do A a gente acorda e não sabe onde está.


Se o tema me tivesse rendido um texto legal eu teria dúvidas entre as 4 respostas abaixo para ficar como desfecho. Cada uma carrega um tom diferente.

Antes do A tem um Bê ao contrário que - não sei por quê - é vermelho.

Antes do A vem o infinito. O zero. Ou o 'z'. Daí o alfabeto se fecha em círculo.

Antes do A a gente brinca, só brinca. Tem 'papai', tem 'mamãe', tem sorriso e brincadeira. Antes do A a gente bate a cabeça bem forte na quina e chora sem fôlego mesmo depois que passa a dor, porque a gente quer colo e atenção. Antes do A tem dor, mas tem mimo também.

Antes do A vem o pesar de quem diz 'adeus' em vez de 'até' - e queria mesmo era falar 'amor'.

sábado, 1 de novembro de 2008

A vaga

Procura-se uma vaga, mas estão todas ocupadas. Há um quê de poético, que têm todos os trocadilhos bobos, nas vagas que se ocupam. Porque se trata de uma vaga - espaço vago é o contrário de uma vaga ocupada. A vaga abdica do nome que de todo lhe representa e perde toda sua funcionalidade enquanto vaga, porque ocupada. Ocupada.

Isso me faz pensar em sentimentos e compromissos, relacionamentos, ciúmes e perguntas do tipo "Você me ama?". Avalio se posso usar disso para dar continuidade e escrever um bom texto.

Não.

Mas mais fácil seria se existisse algo em que definitivamente pudéssemos nos agarrar.

"Ser", e não sempre "estar".

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Espelhos e Olhos fechados

'Arte pela arte' é como crer no corpo como prisão do espírito. Libertar-se seria negar o mundo que se alicerça em imagens. Mas impraticável é (mesmo na minha mais praticável utopia que, descubro, não é tão praticável assim). Se o vento me levanta os cabelos, a mão naturalmente vai e afaga. 'Arte pela arte' se faz no cabelo despenteado sem querer.

**

'Arte pela arte' é admiração intensa, expressão individual. Independe de alheia aceitação. É o poema feito que não se mostra a ninguém. Por timidez, por receio. Do outro. De si. E feito o som que faz aquilo que cai e ninguém ouve, arte se faz ali - em cadernos fechados, em velhas gavetas, em papéis avulsos, nas cestas de lixo.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Incrédulo

Entendi. O passo único é acreditar. O resto é ladeira a baixo.

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Joga 10

(Vestibular simulado, prova de redação. Isso foi no fim de agosto. A proposta era: crônica literária, com narrador observador, em que se evidencie o "bom-samaritano" moderno - um cara que, nos dias atuais, "faça o bem sem olhar a quem". Por motivos mundanos, teria eu pouco mais de uma hora para fazer o texto. Com inaugurálias me rondando a cabeça, aprumei as idéias que me vieram e vislumbrei na palavra "literária" um trunfo. Receei que 30 linhas não me fossem suficientes e já na metade do rascunho constatei que de fato não seriam. Mas não podia parar. Adaptei a história para que ficasse igualmente expressiva e a fuga do tema me foi inevitável. O narrador-observador se transformou num narrador-personagem-que-observa e o mote "fazer o bem se olhar a quem" ficou pela metade.

O texto que segue é essa redação com uma palavra alterada, outra em lugar modificado e oito novas acrescentadas - é o danado mal da edição.)


Certa estatística diz que passamos boa parte de nossas vidas dormindo. Presumidas oito horas diárias. Intenciona-se vender colchões, naturalmente. Mas utilizemos do mesmo recurso. Extendamos o tempo de tarefas corriqueiras para um vida inteira. Quanto tempo, por exemplo, não passamos dentro de um automóvel? Mais!, quanto tempo não passamos parados ao semáforo, à espera de verde luz - verde cor da esperança - que nos permita ir. "Seguir".

Dói-me pensar nisso. Tanto que busco alternativas para tais momentos - não mais prostituo meus ouvidos com as repetitivas e repetidas e repetidoras e repetirritantes músicas das rádios. Não que eu tenha inventado um novo "tetris". Não, não. O que faço é um bocadinho mais simples. Procuro observar. Assim simples. Observar. Desprendo-me do cinto de segurança, meto a cabeça para fora do carro, apóio-a nos braços, estes também do lado de fora, e pronto!, está montado o aparato. Refaço-me criança numa janela e eis que chega o mais difícil: despir-se dos preconceitos, dos filtros viciados que temos no olhar e no sentir.

Mas estou pegando o jeito. Não fecho as janelas, não travo as portas; olho o pedinte nos olhos e, se nada dou, digo "perdão", jamais "não tenho" - estaria a mentir. O cara do rodinho, boa-gente, já sei até o nome, "Marquinhos". A velhinha tem duas netinhas e problemas no coração. "Dona Amélia" carrega consigo cansada receita médica.

Um catador de latinhas. Maurício. Uma camisa suja de dar dó vestia. Igualmente sujo estava. Resolvo dizer o que significava a frase nela escrita. "Born to party". Nascido para festejar. Ele me pergunta o que é "festejar". "Fazer festa", digo. Ele sorri com melancolia. Eu não consigo dizer mais nada. A mensagem de otimismo que eu queria passar se afundou num mar de lágrimas dentro de mim. Lágrimas que não despejei. Afundaram-se em si, levantando e espalhando espumas de ironia.

Feitoironiaessadeescrever30linhasdistantesdotemapropostoepoucomeimportar. Amém.




E, sim, a nota foi zero.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Dialogam

A pele dela que me disse, estava com frio. não a conhecia, não a conheço, mas muito bem eu sabia que estava. A pele dizia. e eu bem sabia, porque via. via seus pelos eriçados, os poros sobressaltados; Seu corpo dialogava com o meu olhar. e eu via o frio que ela sentia. não que eu a tenha tocado ou sentido do frio e presumido que estivéssemos ambos a sentir. eu simplesmente vi.

***


Caminhava apressado quase. À direita a praça, à esquerda o comércio, o banco num prédio alto à frente - pessoas, esquinas, caminhos. Um cheiro. Respirava sem compasso, o cheiro me arrebatou; agarrei-lhe num longo e pleno inspirar. Caminhei ainda um, dois, lentos, três passos antes de abrir os olhos - fecharam-se como que a procura de imagens na mente, dentro. Vivo algo senti. Cores, vozes, tudo o que me veio, o cheiro que trouxe. Procuro fora, prédios, esquinas, fétidos e fétidas e cheiro nenhum. Pessoas, caminhos. De novo lembro. Sigo. Entorpecido. Quase.

***


Precisava proteger os ouvidos. Papeizinhos, perfeito. Mas sujos e riscados, exigiria certo sacrifício. Devidamente amassados: boca. Amargo. E muito salivei. Tão ruim quanto mastigá-los e lhes sentir o sabor era saber que teria de engolir a papa que restasse. O pior passado, imprenso aos orifícios essas gomas e me escorrem nos dedos excessos de saliva. Não querendo enxugar nas roupas, decido por dar-lhes o destino nativo e: mãos aos lábios - com a língua, paradoxo, secá-las-ia. Fluida brincadeira, calça-me luvas o odor, o odor!? - resgata-se viva em mim a sensação de um beijo teu. (Ouvidos tapados, o intenso barulho soa longínquo e o silêncio me encapsula.) É odor este o mesmo daquele que me persistia na pele, na face, no corpo, onde tu osculasse? Sim, é. Mas a baba minha...? Porque em teus beijos, percebo, lambuzava-me de mim, comigo; e teu hálito, em verdade, emprestava-se do meu.

***


sei do teu sorriso quando ouço o chiado de um leve soprar entredentes. (há muito não te vejo, mas bem sei dos teus olhos, tua boca, bochechas e todo o resto quando em gargalhada estás desfeita - refeita - perfeita). ao telefone, podia ouvir e lembrar. agora, lembro do que ouvia, só daí lembro deveras. não sinto tua falta, porque estás comigo na lembrança - mas mais distante a cada vez. em não muito tempo, estarei vendo o que me lembra do que ouvi quando em teu toque em meus lábios um perfume....

Sinto tua falta.

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Aboaonda

De longe vejo se formar a boa onda. Lisa parede. Bela que só ela. Estou longe; contemplo. Apresso-me só para que ela perceba que eu desejei estar perto. Passam por mim os escombros dela. Passo eu por eles desejoso. Otimista.

O pensamento que me consola é irremediavelmente egoísta - perdi a boa onda porque outras mais me estão reservadas adiante - quem sabe... Saberei. (Mar caudaloso, as chances estão comigo.) Perdi a boa onda. Outras virão. Há males que vêm para o bem, não se sabe o dia de amanhã, o futuro a Deus pertence. Quem canta seus males espanta e, cantarolando uma qualquer, vou.

Onde quase já não dá pé, espero. Ondas, pouco aproveitáveis, nenhuma como aquela, vão-me tirando o fôlego a cada mergulho. (Mar caudaloso, as chances me abandonam.) Mas talvez uma onda, boa lisa parede bela que seja, recompense-me a paciência. Talvez - não, sequer talvez; o tempo em que estive a mergulhar, se aproveitada a boa onda, se levado fosse por ela até o raso, se levado fosse por ela até a areia enxuta, até a calçada lá perto da rua, seria-me suficiente para desapressadamente regressar ao ponto em que ora estava e, sem perdas, esperar.

Percebo-me intraquilo. Percebo-me desamparado. Derrotado. Amaldiçoo algumas, várias ondas. Almadiçoo aquela em especial. Amaldiçoo meu atraso. Almadiçoo-me a percepção e percebo então o aprendizado.

Não soube eu respeitar a incerteza, sólida verdade. Imaginei que o mar me satisfaria os anseios simplesmente porque poderia ser que sim. Ditei regras ao acaso. Mergulhados os pés, meu corpo inteiro n'água, dado o primeiro mergulho, o segundo, fiz-me parte do mar e me supus ele todo, fingi pensar por ele e me convoquei belas ondas. Ninguém veio. Percebo-me feito aquele que ao berço chora porque lhe falta colo e mimo. Silencio meu pensar. Boas ondas todas são.

Entendi o mar, o acaso, a incerteza - a inquietude liquefez-se. Em saída, reparo no céu. O azul. A nuvem distante e esparsa. O vazio. O sol. Grão de areia incadescente. Estrela-do-mar-do-céu. Dói-me a vista mirá-lo como mirei, baixo o olhar a tempo de ver os últimos torvelinhos d'água que me envolvem os tornozelos, ensaio estar a descobrir algo e eis que o ego me sussurra com sutil voz feminina, tudo para mim, tudo quero eu. Finjo entender, volto, de novo n'água, até a cintura mergulhado, perpassa-me uma corrente quente, sinto. Entendo. Duas vezes entendo.

Eu nem o mar somos os mesmos - passado o tempo que fosse, nada é sabido do que se daria em meu regresso se aproveitada a boa onda.

Eu nem o mar somos os mesmos - não há por que admitir a derrota se derrota não há quando não há competição.

Eu nem o mar somos os mesmos - perdão peço àqueles que amaldiçoei.

Eu nem o mar somos os mesmos - mergulho de novo, renovo-me, e convoco belas ondas.

Eu nem o mar somos os mesmos - tudo pra mim, tudo por mim, tudo sou eu, tudo quero eu.

Volto-me a tempo de ver ao longe se formar a boa onda. Lisa. Bela. Sorrindo, apresso-me.

domingo, 14 de setembro de 2008

A boa onda

De longe vejo se formar a boa onda. Lisa parede. Bela que só ela. Estou longe; contemplo. Apresso-me só para que ela perceba que eu desejei estar perto. Passam por mim os escombros dela. Passo eu por eles desejoso. Otimista.

O pensamento que me consola é irremediavelmente egoísta - perdi a boa onda porque outras mais me estão reservadas adiante - quem sabe... Saberei. (Mar caudaloso, as chances estão comigo.) Perdi a boa onda. Outras virão. Há males que vêm para o bem, não se sabe o dia de amanhã, o futuro a Deus pertence. Quem canta seus males espanta e, cantarolando uma qualquer, vou.

Onde quase já não dá pé, espero. Ondas, pouco aproveitáveis, nenhuma como aquela, vão-me tirando o fôlego a cada mergulho. (Mar caudaloso, as chances me abandonam.) Mas talvez uma onda, boa lisa parede bela que seja, recompense-me a paciência. Talvez - não, sequer talvez; o tempo em que estive a mergulhar, se aproveitada a boa onda, se levado fosse por ela até o raso, se levado fosse por ela até a areia enxuta, até a calçada lá perto da rua, seria-me suficiente para desapressadamente regressar ao ponto em que ora estava e, sem perdas, esperar.

Percebo-me intraquilo. Percebo-me desamparado. Derrotado. Amaldiçoo algumas, várias ondas. Almadiçoo aquela em especial. Amaldiçoo meu atraso. Almadiçoo-me a percepção e percebo então o aprendizado.

Não soube eu respeitar a incerteza, sólida verdade. Imaginei que o mar me satisfaria os anseios simplesmente porque poderia ser que sim. Ditei regras ao acaso. Mergulhados os pés, meu corpo inteiro n'água, dado o primeiro mergulho, o segundo, fiz-me parte do mar e me supus ele todo, fingi pensar por ele e me convoquei belas ondas. Ninguém veio. Percebo-me feito aquele que ao berço chora porque lhe falta colo e mimo. Silencio meu pensar. Boas ondas todas são.

Entendi o mar, o acaso, a incerteza - a inquietude liquefez-se. Em saída, reparo no céu. O azul. A nuvem distante e esparsa. O vazio. O sol. Grão de areia incadescente. Estrela-do-mar-do-céu.

Volto-me ainda. De longe vejo se formar a boa onda. Lisa parede. Bela que só ela. Estou longe; contemplo. Melhor assim.

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Notas de Aula - O Fim

Acho que a série 'Notas de Aula' acaba aqui. O formato é legal, dá brecha para historinhas e opiniões curtas, mas já chega. É legal, mas não imprescindível.

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Notas de Aula - Semana 4 - Dia 2º; Dia 3º

Ambos dias sem anotações.

"é impressão minha, ou as anotações de aulas estão ficando escassas? e com isso tb a sua freqüência, é? assim vc não passa no vestibular, mocinho."

Né, elas diminuiram sim. É, a frequência também. Acho que por eu estar mais disperso. Porque permiti-me ficar mais disperso. O início foi naturalmente mais intenso. Não conhecia os professores, queria conhecê-los. Estava aceso, alerta, crítico. Agora foco no que realmente não quero perder de vista. Ou no que muito me chama a atenção. Se fosse repetir as críticas primeiras, muito me alongaria. Não que não queira discorrer sobre esses "vícios". Muito pretendo. Mas é que as notas de aula são só... notas.

Não falemos de vestibular. Aí é que me alongo mesmo. Num piscar, estaria a discorrer sobre pedintes no sinal e o modo como os tratamos. Meu discurso sobre tudo é quase que uma coisa só.

Responde, raquel. Se tudo cair, o que se sustenta? Não precisa se afobar. Pode perguntar o que é 'tudo'. O que é 'cair'. Mas finge saber primeiro. Afinal, você sabe. Todos sabemos.

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Notas de Aula - Semana 4 - Dia 5º

Parker - Física:

  • "Não copia nada ainda, só olha para o quadro, que agora vai ficar mais divertido."

    Vi gente soltar as canetas e cruzar os braços. Engraçado.



Golias - História:

  • "Soberania Popular" - Soa correto. Soa. Mas e a minoria que se cala?

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

N. de A. - S. 4 - D.1º (Parte 2ª), D.2º, D.3º, D.4º

Andes - Geografia:

  • "Mapas temáticos" - entre vários, havia o "Batimétrico". Ph me cutuca: "Ó o mapa do Batman". "O mapa do Batman ali, ó". Comédia, "Tô ligado, é tipo o mapa da bat-caverna, né..." digo.

    Mas inevitavelmente começo a matutar. O batman só é batman e tudo vira bat-coisas em referência a 'bat', 'morcego' no inglês. Morcegos vivem em cavernas, regiões profundas. E, sim, o mapa batimétrico serve para representar profundidade. Certamente o morcego anglo-saxão recebeu o nome 'bat' por este estar relacionado àlguma característica sua - no caso, o hábito de viver em ambientes profundos e com pouca luminosidade, suponho.

    Etimologia não é coincidência; as palavras, os nomes não são montados ao léu.

    Trigonometria nada tem a ver com trigo, mas bem poderia, não?

  • "Fortaleza, que fica a 2º 46' ao sul da linha do equador..."

    Olho para trás e digo para o Ph "égua, achei que era 3º 23'...". [E de fato achava; esse número me ficou na memória desde época do colégio, e sempre recorri a ele para justificar as chuvas, a quentura e o não-horário de verão daqui (conversas pelo sudeste...)]

    Não demora muito, Ph vem com a sátira. Mãozinha no queixo como de quem está pensando, solta: "Égua mah, 2º 46'... achei que era 3º 23'... Ah, se bem que tem o movimento das placas tectônicas...".

  • Questão sendo resolvida no quadro, algo sobre um passeio de barco numa rota triangular. Norte-Sul, perpendicular para lá, 30º para cá. Contaral.

    Ph comenta: "Égua mah, questão de matemática isso aí... Geografia só por que tem rio, é? Daqui a pouco, na prova de Biologia tem lá: 'Um animal se reproduzindo a 50 km/h...' ".

**

Cocada - Biologia:
  • Um pedaço de gravura bonita. Isso dá o quê? Já tive problemas com isso antes. Na época do caderninho. Eu encontrava uma "situação" notável e não sabia o que fazer dela. Texto? Versos? Música? E me doia.

    Mas peguei a manha. E é fácil. Basta não interferir.

    Inaugural vai ganhar mais um novo irmão.

**

Titanic - História:
  • "Mulher e amantes, juntos, amarrados e jogados ao rio" - Não queria tomar nota disso. Dá poesia. Sim, dá. Mas não minha.

  • "Empalado."

    Triste imagem.

    Que tal "empalavrado"? Aí, sim. Morreria era duas, três vezes. Se mais, melhor.

**

Tai - Biologia:
  • Desde já peço desculpas pelo linguajar. Mas foi assim que aconteceu.

    Falou-se de sanguessugas. Veio-me dúvida sincera. Dúvida com relação a terapia usando sanguessugas. Porque tem esse lance de não sentir a dor e tudo mais. Daí veio-me outra. E uma sanguessuga na língua? Deve lesar bastante, músculo, mó vascularizado e tal. Outra idéia me veio, mas não dei atenção. Nem precisou, no que comentei dessas duas perguntas que faria ao professor, Ph de sobressalto: "Eeei mah, imagina no pau!?". Eu, "Hehe, pois é, até pensei nisso também... Vixi mah, o pior é que tem os corpos cavernosos, a ereção depende da boa vascularização... Maaacho, a sanguessuga vai chupar sangue pra caralho! Eita! Pra caralho!!".

    Não deu outra. Fui tirar as três dúvidas com o professor. Com direito a trocadilho final e tudo.

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Notas de Aula - Semana 4 - Dia 1º - Parte 1ª

Tomé - Biologia:

  • "Útero não-gestacional possui cerca de 50 g; cabe na palma da mão." - Poesia. Ei-la:


  • Quatro versos (título provisório)


    tocar-te-ei o útero com as mãos

    não com as minhas

    mas com as do filho que é teu

    e meu


domingo, 24 de agosto de 2008

Notas de Aula - Semana 3 - Dia 5º

Athos B. T. Skyler Ripilica - Química:

  • Mais uma para coleção. O nome do professor é o mesmo da marca de camisa que estou a usar.

  • "Assimilar o macete". Perdoem-me a indecência. Não confundir com "se melar com o cacete" ou "amaciar o...". Que feio.

  • Polimerização e o surgimento da vida, eu e a praia, eu e o mundo, a história e o passar do tempo, o feijão e o arroz, aquilo que importa e aquilo que está lá dentro, a tartaruga e o panda.

    Aquilo que não depende de nós.

  • Estamos no meio do caminho. Ou no começo. Pretenção é uma cilada. E o mundo não vai acabar. Mal começou.


Golias - História:
  • "Qual o marco pessoal? Qual o grande marco, o grande momento que determinou que não mais se discutiria o Feudalismo? "

    Vontade doida de gritar lá de trás "A queda do muro de Berlim!".

sábado, 23 de agosto de 2008

Notas de Aula - Semana 3 - Dia 4º

Jojó - Geografia:

  • Lembro uma situação em que uma amiga se quis fazer cupido. Quis dar pitaco. Fazer-se de informada. Fazer-se de informante. Isso nunca sai legal. Ser confidente dá status parece. Pv bem soube traduzir esse querer tão recorrente - era-nos uma amiga em comum a da ocasião: "Tem gente que gosta. Eu prefiro dançar forró", disse. E é bem por aí mesmo. Eu prefiro jogar frescobol.

    (Editado) Putin, putin. Podendo fazer tantas outras coisas. Deve ter tanto livro russo legal pra ler. Tanta coisa legal pra fazer no gelo.

  • A gente cede porque tem medo. A gente se adequa porque acha que infelizmente é necessário. A gente segue a correnteza primeiro porque é forte demais. É difícil nadar contra, mas repare que passaste a nadar com ela. Coração endurecido. Levantaste a bandeira a contra-gosto, entanto agora vê tudo com malícia e sorri com raiva enquanto ela tremula no ar.

    Por que parar de contestar? Por que parar de fundamentar-se, de sentir, de questionar? Buscar os porquês das coisas é o que há. Ou machuca?


Pontes - História:
  • "Ilustríssimos, quem foi que descobriu o ouro no Brasil?"

    Bateu-me uma vontade doida de gritar lá de trás "Pedro Álvares Cabral!".

  • Há interessantes momentos nas aulas do Pontes. É quando ele diz "anote aí". Um mar de cabecinhas atentas mergulha nos cadernos e ainda mais atentas despejam pelas canetas o que lhes escorre dos ouvidos.

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Um post para ninguém

Tem horas que os dias passam despercebidos.

Notas de Aula - Semana 3 - Dia 3º

Selton - Química:

  • "Uma formiga no Castelão" - Legal. Não sei o que dá.


Vadio - Literatura:
  • Bem sabem.


Titanic - História:
  • O mal da disputa política; O mal de toda forma de disputa. Nego toda forma de compet... thiaguinho, querido, mas tu só fala mal, só chuta o balde, faz só do que quer e não participa? Vota em branco, é? Aguarde...

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Notas de Aula - Semana 3 - Dia 2º

Sem anotações.

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Notas de aula - Semana 3 - Dia 1º

Carlton - Biologia:

  • "A febre..." - Poesia.
  • Genes inativos e aquilo que não somos - Prosa poética?
  • Dna lixo e a vida que levamos - Prosa poética?
  • Hoje eu dormi a aula toda... não prestei atenção em nada - Poesia.
(Essa anotação última não fui quem fiz. Foi-me um presente do meu caro amigo-parceiro-colega de todos os dias, raphael. Grande fanuelino, ponta-esquerda, camisa 7, conhecido também como Alexandre pHato. Fiquei muito feliz com a brincadeira. De fato tenho cochilado um pouquinho quando convém. Nota: comprar cadeado para caderno... )

sábado, 16 de agosto de 2008

Desconcerto

"coincidência: simultaneidade de dois acontecimentos; concordância; justaposição; identificação de duas ou mais coisas; acaso"


Não há por que muito matutar, não há jeito. Ao fim a lógica se rasga e os sentimentos nos traem. Resta a escolha. Acreditar, ter certeza, duvidar. E cada um é na verdade a mescla dos outros dois.

O conceito de simultaneidade ganha importância e 'coincidência' enquanto palavra perde força. Perde a carga esotérica. Pois significa tão somente que acontecimentos se deram em simultâneo.

O importante mesmo é o que se faz delas. Das coincidências. Elas sozinhas não fazem nada. Elas nos são o cenário.

Segundo meu conceito de simultaneidade, coincidência é o acaso; e o acaso enquanto agente transformador é na verdade uma personagem cega, surda e louca. Fala, mas ninguém entende direito.

Acontece com 'coincidência' algo similar ao que se dá com 'praticamente'. Quando algo é 'praticamente' impossível de ocorrer, fica-se com a idéia de que seja 'quase' impossível. Mas, não, trata-se de algo impossível de acontecer 'na prática' - não ocorre é de forma alguma. 'Coincidência' tem distorção análoga - ora 'incrível', ora 'mera' - e não sei qual que é a verdadeira.

Meus amigos, sobram búzios e cartas e velas no mundo que tentam entender por que assim é que se dá... e eu tento também - procuro na palma da minha mão e nos capilares dos olhos, nas melodias que sinto e ouço, no cheiro de tudo, no gosto do beijo e na memória... ah, na memória...

Não há mesmo jeito, tudo é coincidência e discutir isso é uma grande bobagem. Simultaneidade é uma imposição forte demais. As coisas acontecem e isso basta.

Nada é coincidência. "Sejamos todos clandestinos em nosso ser e íntimo pensar. Há mais sinceridade nas coisas que não se permite." Escolhi o vermelho-sangue, deram-me um um verde bonito. Verde das ervas-finas. Verde como a esperança. Verde como a esperança.

Segundo meu conceito de simultaneidade, coincidência não é puro acaso; longe disso - somos traços e rabiscos. Imagens e semelhanças que por igual ensaiam dos seus também. Rascunhos descontentes.

Muito preguei que as coisas sempre aconteciam da melhor maneira possível e só não nos dávamos conta disso. Foi um achado. Atirei no que vi, acertei no que não vi - se é que isso é uma coisa boa. Na época, traduzia um otimismo bobo e sem fundamentos teórico-práticos; era meu modo dizer ao mundo que eu estava contente com a vida que levava. E quando não mais estive, para onde foi a bonita frase? Neguei-a. "(...) acreditar que as coisas acontecem da melhor maneira possível é um clichê agradável que não me consola mais, mas que respeito." De fato, "Narciso acha feio o que não é espelho". Mas agora não mais. Sim, elas acontecem da melhor maneira possível. E justifico como puder. Com paixão para os céticos, com ripidez para os namorados, com embasamento científico para as crianças. Com crença, certeza e dúvida para mim.

Notas de Aula - Semana 2 - Dia 4º

Jojó - Geografia:

  • Enxergo uma brecha. Desregulamentação - é o que se prega agora, para que se conserve e intensifique o que já está. A história se repete como dizem e eu já enxergo o fim, um fim, por uma brecha eu vejo. A história se repete e diz que o trunfo final dos que cairão, a última cartada, em verdade é o trunfo primeiro dos que hão de ascender. Desregulamentação. Enxergo uma brecha.

  • O mal das licitações; O mal dos padrões; "Euestoupagando!". Não me rendo mais. Não vou me adaptar. Não vou ceder nem me adequar. Como já bem escrevi em notas perdidas: "nunca, nunca mais viver no piloto automático. Tudo tem uma razão de ser; cada palavra falada ou escrita. Cada gesto, cada erro. Nunca mais levar com a barriga sem propósito. Tudo tem uma razão de ser. Não é por convenção. Não faço mais nada por convenção. Nunca, nunca mais viver no piloto automático."

  • Entendi Gandhi.

  • Muito bom. Ótimas idéias, ótimos argumentos. Falta-lhe a obra.

  • Crescimento econômico é parâmetro de progresso por quê? Isso daria mais um texto do tipo "Sim ou Não, Justifique".


Pontes - História:
  • Os vícios e expressões denuciam-nos o íntimo pensar. "Petróleo, petróleo, petróleo, petróleo. O petróleo permitiu que Putin colocasse a Rússia em seu devido lugar." Lugar bastante devido, vê-se. Onde possa se impor, mandar, desmandar, oprimir. Isso não é lugar devido para ninguém. De novo, lembra-me Som ("Pode mostrar todo teu poder bélico, eu não quero. Ninguém nasce armado. Tu não nasceu armado. Eu não nasci armado. Por que vou-me armar então?").

  • "(...) Pagaria com a própria vida. Seus bens. Confiscados."

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Notas de Aula - Semana 2 - Dia 3º

Selton - Química:

  • Ouvindo sobre mentes brilhantes, críticas e o mundo e suas competições, acho que entendi uma coisa legal. Gostei da aula.


Titanic - História:
  • Porque os diálogos somos nós quem fazemos. Tudo se dá dentro da caixa craniana, não? A cor da tua roupa sou eu quem dou. Você escolheu. Tentou. Mas a palavra final, a tonalidade, é toda minha.

  • Agora me está bem claro. Prego o Bairrismo Universal.


Vadio - Literatura:
  • Falou que ia tratar do enredo do livro. Escapuli-me.

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Notas de Aula - Semana 2 - Dia 2º

Matos G. - Redação:

(Única aula que me rendeu uma, e ainda assim tímida, anotação.)

  • "Entre ti e ela." - Poesia.

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Notas de Aula - Semana 2 - Dia 1º

Leão - Matemática:

  • As armadilhas são muitas. Não sei se transcrevo o que ele acabou de dizer; não sei se conseguirei-me fundamentar sem páginas e páginas. Mas algo me sai: terrorismo funciona, porque o medo é real. Respeitemos o medo e procuremos saber sempre se o medo em questão é nosso ou do outro.


Tom - Matemática:
  • A Matemática é assim às vezes toda poética. A gente fixa o universo que quer.


Tomé - Biologia:
  • Planeta primitivo, 4.6 bilhões de anos, tempestades - Isso dá poesia.

  • O compromisso com verdades externas é um problema. Castra-nos, limita-nos, impede-nos de criar, de contestar, de propor absurdos que muito nos fazem sentido. Por vezes temos tantas das mais terríveis certezas que apostamos alto, juramos a Deus e ao Capeta e muito nos impacientamos com os que se fazem contrários, os que nos dizem errados. Num nada de tempo - o tempo sempre passou rápido quando já é hora - , irremediavelmente estupefatos, abobalhados, comprovamo-nos enganados. Permitir-se errar, os que o fazem são provas vivas de quem nem tudo está perdido.


Andes - Geografia:
  • "Tórrida" - a palavra sozinha já chama poesia.


Leitão - Física:

(Sem anotações.)

sábado, 9 de agosto de 2008

Notas de Aula - Semana 1 - Dia 5º

Brando - Orientador Pedagógico (O professor faltou):

  • "O que diferencia o quadro de 50 reais de um de 500 reais, de um de 500 mil reais? Um detalhe. Só um detalhe."

    Não quero me alongar muito. Dinheiro é lixo; deixou de ter poder de troca para ter poder de expeculação. Arte não tem preço; dar valor é um erro, há de dar-se sentido. Minha arte não é maior, melhor, mais cara que a tua. Nego toda insincera forma de competição.


Parker - Física:
  • "Deus fez o mundo de tal maneira que os átomos vieram a ter essa propriedade."

    Fantástico.


Landau - Química:
  • Discurso inicial com a entoada de sempre. Péssimas idéias com bons argumentos. Ótimas idéias com os mais errados dos motivos.

    (Podem achar que estou querendo ditar a verdade e sendo muito taxativo. Nada. Minhas premissas são a felicidade e a sinceridade. Zelo para que minha verdade prevaleça. Mas o mesmo vale para o outro. Sempre.)


Golias - História:
  • "Somos iguais."

    Boa. Muito embora tenha a cara de quem se adequou bem, sem muitos conflitos ou dores. É simples, uma boa pessoa, muito respeitoso. Outro aliado?

  • Esse cara vive o que diz. Ele se dá em cada palavra. Certamente, ele se permite. Eis-me um aliado.


Letalis - Química:
  • Idéias erradas, bons argumentos. Sem novidades.

  • Péssimas idéias, ótimos argumentos. Acabou de defender a quebra de certo paradigmas mas em prol de outros piores, que carregam o cerne intensificado dos primeiros. Troca de 6 por duas dúzias.

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Notas de Aula - Semana 1 - Dia 4º

Tai - Biologia:

  • Taxionomia muito me agrada. Revela o parentesco. A relação. Une.
  • A sala mudou. Primeiro foi a 105. Depois a 209. Agora é a 101.
  • Vou aprender latim.
  • Canis Sapiens Tartarulga Terrificus. Será o nome do meu cachorro. Acho que será um Dálmata de pintas caramelo. Ou pretas? Decidiremos em Assembléia Familiar.
  • Ler é decompor.
  • As algas foram plantas até antes de eu nascer.


Jojó - Geografia:
  • "Existe uma palavra frequente na nova ordem mundial que é 'Otimização'."

    Incrível. Essa palavra me fodeu por quanto tempo? O medo do desperdício. Ah, se ele complementasse esse discurso. Ajudaria tanta gente. Esses caras defendem boas idéias com argumentos incompletos, péssimas idéias com ótimos argumentos, idéias incompletas com bons argumentos, ótimas idéias com péssimos argumentos. Eu não cedo mais. Eu não vou me adaptar. O vestibular que se parta. Eu não vou me deixar partir.

  • Esse cara é um filho da puta muito sincero e seguro. Teremos boas conversas. Eis-me um aliado, acho.

  • Esse cara se permite. Eis-me um aliado.

  • "Corrida armamentista" - isso me lembra do Som, artesão amigo meu. Ele me disse algo como "Cara, não é todo mundo que vive nesse termo. Não é fácil viver no termo. Nessa proposta de arte. Eu decidi viver assim e assim eu estou. Eu acabaria sendo um psicopata, um ignorante se eu cedesse ao que me pediam. Mas não. Pode mostrar todo teu poder bélico. Eu não quero. Ninguém nasce armado. Tu não nasceu armado. Eu não nasci armado. Por que vou-me armar, então? Vou vivendo no meu termo, vivendo minha arte."

    Sim, Som é um artesão que taxamos de "hippie", que confundimos com mendigos, com marginais, dos quais temos medo, aos quais não damos atenção e contra os quais nos munimos de preconceitos. Digo "nós", mas já não me incluo aí. Conversem comigo, acompanhem-me à praia. Vejam-me fazendo uma compra, entrando numa loja. E permitam-se.


Carlton - Biologia:
  • "(...) pontes de Hidrogênio, que os químicos preferem chamar de interações, ligações de hidrogênio. Mas para mim tanto faz, eu não sou químico. " - isso dito com um sorriso de escárnio/ironia no rosto.

    Rótulos, competição, caixinhas, pouca sinceridade. Ê lai-á.


Damião - Matemática:

(Não assisti a essa aula. Estive só de corpo presente. Fiquei a ler.)



Daniel - Física:
  • O mundo carece de... não ouso completar a frase.


Pontes - História:
  • Engraçado que taxamos de imperfeições absurdas as mazelas do passado e teimamos em não nos permitir enxergar as contradições atuais. Muito se reclama da escravidão, do mercantilismo, da exploração colonial, dos desrepeitosos preconceitos que se impregnavam à sociedade. Mas, uma pergunta que descabida e fora de propósito parece, faço: quando o pedinte - criança, jovem, adulto, idoso; aleijado ou são - pede-lhe esmola, o que respondes? Quais as exatas palavras? Por que elas? Sabes? Percebes? Olha-o nos olhos enquanto fala? Olha-o ao menos? O que o pedinte é para você?

  • Tenho medo dos profissionais que seremos no futuro. Digo "nós", mas já não me incluo aí. E não me incluo não por acreditar ou ter a garantia de que serei um excelente, íntegro, responsável, ético, rentável, justo profissional. Mas, sim, pela certeza plena de que não o serei. Mais que isso, sequer "profissional" serei. O vestibular que pretendo prestar, o curso no qual pretendo estudar, o diploma que almejo são apenas o meu leve "ceder" às imposições mercadológicas. É uma consessão, para que não rompa de vez com todos os paradigmas, taxem-me de louco e passe a viver como meu amigo Som.

    "Mas louco é quem me diz e não é feliz."

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Notas de Aula - Semana 1 - Dia 3º

Perdi a 1ª aula.



Vadio - Literatura:

  • "Certezas e Contra-Certezas" - Doeu. Estou atrás da porta ainda.

  • Aula sobre livros que não li. Estou com medo de que me arranque o prazer da descoberta, do desvendar do inusitado, da correlação dos nada's-a-ver'es, de atar os nós desfeitos, de desamarrar a obviedade. Do desentortar das entrelinhas para entortá-las ainda mais.


Titanic - História:

  • Numismática: "Un Nuevo Sol" que carrego no pescoço.

  • "Narrativa circular; eterno retorno; ação do Deuses."

    A poesia prevalece. E eu atrás da porta a esperar. A fazer versos. Nada de errado nisso. Em verdade, não doi. Ou não percebo a dor. Não sei.

  • "Quanto mais evoluimos no aspecto tecnológico, mais involuimos nas relações e questões humanas."

    Deveras. Robotizamo-nos.

  • Larguei mão do meu positivismo, meu exatismo. Rei'naugurei-me. A festa se deu recentemente. Levo-os debaixo do braço ainda, é verdade. Mas no aro que faço com os dedos, sopro bolhas de poesia. Por poesia entenda tudo. E tudo é uma coisa só.

  • Sou uma criança de rebeldia fundamentada. Peço desculpas, Niemeyer, Nietzsche, Vinícius, Sartre, e agora vocês, Marx e Engels.

  • "Luta de Classes" - isso me lembra um comentário de um amigo que muito me envaideceu; e me lembra um passarinho que por instantes voou lado a lado com o carro que dirigia, quando passeava com minha mãe pela avenida da praia. Em ambas situações soube consertar o pensamento que se me deu. Ainda bem.


Ledger - Matemática:

  • Acho que o problema nunca é com o professor. Aquele que está ali a frente a trabalhar, com a cara amostra ao tapa, expondo-se. O problema sempre é da aptidão dos que estão a assimilar o que é passado ou não. Ou não.

  • "Explementar" - esse eu não conhecia. Lembra-me "explanar", que remete a "plano", embora não em significado. Ou sim? Tornar plano, planificar, desfazer as curvas, desentortar entrelinhas. Tornar mais entendível. Deve haver uma bonita analogia que a etimologia explica.

  • Não sei se pelo microfone apoiado no batente do quadro ou se pela impostação de sua voz... pronto, percebo, é o microfone.


Leea - Literatura:
  • Ando enxergando demais. Tenho que tomar cuidado. Minha verdade há de prevalecer sempre. Zelo por isso. Mas o mesmo há de valer para a verdade do outro.

  • Uma obra minha há de ter eu mesmo como narrador ainda. Um romance inteiro. Sem filtros. Eu ali. Loucura. Escrever é permear-se, fazer-se de filtro. Como poderei eu... ? Tentarei.

  • "Avalassad...". Bobagem. Não só eu percebi. Houve um burburinho.

  • Aula sobre livros que não li. Ei de escapar.

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Notas de aula - Semana 1 - Dia 2º

Cocada - Biologia:

  • Tendilhões e o néctar da flor de cactus. Isso dá Poesia.
  • O homúnculo que fui, Adão, Caim e Abel. Poesia.
  • Cortes e menarca. Idem.


Rutherford - Física:

  • Tenho-me lembrado bastante de um professor de Biologia que muito pregava o abolir das "caixinhas" nas quais se dividiam as informações nas nossas cabeças. Louvável. Mas isso ele pregava. A aula dada continuava a ser de Biologia.


Matos G. - Redação:
  • Deveriam escrever os que são de escrever. Desenhar quem é de desenhar. Dançar aqueles que dançam. Cantar os que cantam. Encenar, tocar, recitar, jogar, tramar, sorrir, tossir, fugir, correr, andar, beber, comer, o diabo que for, aqueles que se propuserem. Sem restrição quanto ao número de linhas.


Omar - Gramática:
  • "Cristo não foi um homem sábio. Cristo foi a própria sabedoria. Sem preciosismos, e justamente por isso, ocultou do sábio para revelar ao pobre, ao simples."


Alexandre - Matemática:
  • Fala apressada. Diz não ter tempo a perder. Mais um que bem reproduz, mas pouco zela por fazer brotar, criar. Nada digo de suas habilidades como professor - é muito bom no que se propõe a fazer e da maneira que lhe é pedido fazer. Mas me pergunto se teremos boas conversas.

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Notas de Aula - Semana 1 - Dia 1º

(Ler post "Novos Horizontes" antes)

Leão - Matemática:

  • Há de se tomar cuidado para não confundir o bizu com o método em si. O bizu é uma nova roupa, mais fácil de tirar. O nu ao fim é o mesmo. Mas quem disse que o gozo é que basta? O percurso vale mais. Mais e tanto quanto o fim.

  • "Ir ao encontro do primeiro contato."


Tom - Matemática:

  • Bom sinal que é encontrar dinheiro em roupas limpas. Dinheiro é lixo. Mas o papel de que é feito é feito de papel. E venceu um tremenda batalha contra uma lavagem ou duas.

  • "Lógica" é uma palavra que não tem significado. Ia escrever "vazia de significado" mas não. Os dicionários não deveriam traduzi-la.

  • "Sempre depois de Domingo vem uma Segunda." - eu não me arriscaria.

  • "Não tem sol nem solução." D'ou'tro sentido: "(se) Não tem sol, não tem solução."

  • "Eu tenho quantas bolas? Cicoenta-e-duas."

  • Na prática, precisão arbitrária não há. Desenhar um quadrado, um quadrado mesmo, levaria uma eternidade. Medidas e retoques.


Tomé - Biologia:

  • "Origem da vida - um tópico imutável."

    Vou balançar esse alicerce. Afinal, para onde vão os pombos quando os pombos morrem?, perguntou-me alguém.

  • "A curiosidade é o despertar para o conhecimento."

    Buscar porquês é manter-se acordado.

  • O problema do estudo como atividade compulsória é que se taxa o saber de inteligência e o não-saber de ignorância. Castra-se a dúvida sincera. Ri-se do tolo, o burro. Almeja-se o sucesso sem sentido das palmas não sinceras e da nota boa que nada de real conhecimento traduz.

  • Estou a ouvir histórias em versões que já ouvi. Mudam-se as palavras, uns gracejos, uma coisinha ou outra. Mas nada se acrescentou. Há espontaniedade na reprodução - e é sincero meu riso - , não na criação. Saudades das aulas de Juarez Leitão e Carlos Augusto Viana.

  • Professor deu um leve alfinetar em Jesus. Encontrei um cético, racionalíssimo. Um era-eu. Teremos boas conversas.

  • "cortantes" como substantivo. Expressivo.

  • Mal de San Lazaro. Lepra.

  • Pescoço de cisne/ganso/pato/flamingo/pelicano/urubu. Pronto. Escolhi. Louis Pasteur e o experimento do pescoço de Urubu.


Andes - Geografia:

  • Assisti a uma aula dele há uns anos. Só uma. Conheci-o com uma aspecto mais agradável. Nada digo da beleza. Olhos fundos demais agora. Só isso.

  • Algo amarrado ao pulso direito dele me diz que não somos muito diferentes. Talvez ele se leve a sério demais. Teremos boas conversas.

  • Rosa dos Ventos cheira a poesia.

  • 23-56-56-24-7-365-48-48.

  • Solstícios e Equinócios. Por que não estou surpreso? Setembro tem solstício - não equinócio, agora sei -, quando os hemisférios recebem calor com intensidade diferentes. Da próxima vez vou consultar meu mapa astral com mais cautela.

  • Xi... Levantei a vista agora. O desenho no quadro diz-me o contrário. Setembro tem equinócio... mas...

  • Trópico de Capricórnio corta São Paulo. São Paulo corta muita gente. Acho que é um revide. Mas perdoo-te, ési-pê. Deixaste-me boas marcas. Voltarei para revivê-las. Reavivá-las. Sempre.


Leitão - Física:

  • "Independência é um dos princípios."

    Assim, fora de contexto, sem mais explicações, fica bem melhor. Nem parece de uma aula de Física.

  • Há quem faça uma celeuma por ter de decorar as cores do arco-íris. Antes ter na memória as regras e convenções determinadas pela natureza - das quais não se pode escapar - que os absurdos e contradições que inventam os homens, contra os quais se deve lutar.

  • Quantos Rio's no Brasil. Isso dá poesia.

  • "A rosa não tem luz própria."

    Vou balançar esse alicerce...

De dentro para fora

(Ler post "Novos Horizontes" antes)

Quais as lentes que usas? Com um olhar fotográfico, tudo vira quadro. Hoje uso as lentes da poesia que há em mim. Permito-me-êu ser-me-êu, mudo-me-êu quando quero-me e sempre que falo-êu. E está-àqui dito-ísso.

êu-sou-Eu. soul-que-Sou.

Novos Horizontes

A partir de agora, postagens diárias. Uma, no mínimo. Minhas super-férias acabaram (8 meses voam quando a gente se diverte), voltei à labuta compulsória. Mas com outros olhos (post seguinte explica). Isso significa material, notinhas por todos os cantos, palavras soltas e pensamentos remendados a toda hora, todo instante. E eis que surge uma nova série: "Notas de Aula". Sim, a exemplo de "Investindo na Bolsa de Valores", registrarei aqui minhas anotações durante minhas aulas do curso intensivo que estou fazendo para o vestibular. Sempre na madrugada do dia seguinte surgem aqui as notas do dia. O que não for "Notas de Aula" é "Intervalo" até que eu me atreva a finalizar "Futebol".

O nome dos professores foram devidamente substituidos. Ao fim do curso, quem sabe?, revelo quem são e o porquê de cada apelido.

Inaugural ganha um irmão! "Inaugurálias em Verso" diz o subtítulo. Vai ser legal. O funcionar dele revelar-se-á aos poucos. Visitem-no ainda no berçário.

Mais dois outro projetos estão em processo de maturação. Ou são três. Quatro. Três. Nhá, sei lá. Só sei que quanto mais me ocupo, paradoxalmente, mais leio e mais escrevo. Isso é muito bom.

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Em que finalmente falo de Matemática

Trigonometria nada tem a ver com trigo. O mundo às vezes é injusto demais com quem quer ser sincero em dúvidas que muito fazem sentido. O duro é aguentar o riso dos que julgam inteligente ser ignorar a verdade dentro de si. Por verdade entenda dúvida. Por dúvida entenda querer saber, ser curioso. Por ser curioso entenda buscar a verdade. Por buscá-la entenda ela em si, pois num trajeto, nada vale tão somente o fim. Mais vale o percurso? Cautela. O percurso e o fim, uno, são só tudo no mundo. Dar valor é um erro. Há de dar-se sentido. Trigonometria nada tem a ver com trigo, mas bem poderia, não?

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Sim ou Não, Justifique

Você sabe ler? Por que você lê? Você lê? O que você lê? Para que você lê? Você lê Veja? Você lê IstoÉ? Você lê Época? Você lê o quê? Para que você lê? Você lê para se informar? Você se informa para quê? Você lê Playboy? Você Playboy? Você lê jornal? Para quê? Que jornal você lê? Que jornal você não lê? Por quê? Você lê piauí? Você lê Trip? Você lê Bravo! ? Para que você lê? Você lê porque se sente bem? Se sente maior? Se sente melhor? Para que isso? Você lê Caras? Você lê Quem? Você lê Contigo? Para que você lê? Você sabe o porquê? Você lê HQ? Que HQ você lê? Você lê Revistinhas da Turma da Mônica? Você lê HQ's de heróis da Marvel? Da DC? Image? Você lê manga? Você lê HQ pela trama, pela arte ilustrativa ou porque gosta de ler? Você lê literatura técnica? Há quanto tempo você não lê nada além de literatura técnica? Por que você lê literatura técnica? Você lê literatura? Você lê romances, crônicas, contos? Você lê poesia? Você lê poesia? Você lê poesia? Para ler poesia não é preciso porquê. Por quê? Você não lê nada disso? Sente-se afrontado por tão inquisitórios "por quê's"? Você não lê nada disso? Nada de errado nisso. Nada de errado nisso? Nada de errado nisso.

Você lê o Inaugural? Por que você lê o Inaugural? Por que você me lê? Para quê? Porque você me conhece? Porque você quer me conhecer? Para que você lê o Inaugural? E o Inaugural é para quê? É sobre o quê?

Você não tem que ler nada.

Você gosta de ler?

Você gosta mesmo de ler?

Você saber ler?

Você sabe mesmo ler?

Por que você lê?
Por que você não escreve?

Escreva.

quinta-feira, 31 de julho de 2008

rirvirar

zelo pelo meu direito de ir
pelomeudireitodeirr
meu direito de ir
direitodeirr
de ir
deirr
irr-e-rir

E o meu direito de rir começa quando o de vocês começa também.
Pois é para rirmos todos juntos.

E por mais que não riam comigo, não gostem, não entendam, ou mesmo por não ter mesmo graça, Zelo pelo meu direito de rir, E ir, Ou irr.

O riso que sai só vai não vem.

Zelo pelo meu direito de irr.
irr-e-rir.

segunda-feira, 28 de julho de 2008

O Croc

(Um auto-retrato de mim em 03/03 desse ano. Aproveito-me para epífrase de nota a qual darei continuidade ainda e, embora de madrugada bem mais recente que a da concepção deste texto - que, em verdade, deu-se em pleno dia, lembro bem - , e embora também motivada tenha-me sido por outras questões (no bloco de notas que a contém, segue em parêntesis "papai, pc do b, quarto grátis, amanhecer e ver estátuas que dormem, todas cinzas-vermelhas", não insurge como forçada a relação entre um e o outro. Permitam-se descobri-la. Talvez em breve eu escreva do significado de nota outra que me brotou agorinha enquanto escrevo estas palavras: "Niemeyer e seu sopro, Eu e meu samba, Humberto e música qual não lembro, Lulu Santos e os tempos modernos que não voltam, Anitelli e o tudo, Kiske e o pouco tempo que todos temos". Entender-se-á.

Lembro. O mote "Imagina se um crocodilo vem e me pega" veio-me. Permiti-me dar-lhe graça. Dei. Permiti-me um pouco mais e ele foi surgindo aos poucos, aos parágrafos, devidamente planejados em espontaneidade. Homenagiei todos aqueles que me cercavam à época. Digo "permiti-me", mas mal sabia eu o que significava isso. De novo, entender-se-á, se o pouco que se entende dessas tortas e meias palavras entende-se mal. Afinal, sobre o que é o Inaugural?

Tudo a seu tempo, caros.)

"Sejamos todos clandestinos em nosso ser e íntimo pensar. Há mais sinceridade nas coisas que não se permite"


Imagina se um crocodilo vem e me pega. Eu morro. Se ele viesse sorrateiro, o safado, e me devorasse antes mesmo de eu sair da cama. Antes de eu levantar e ir deixar a Fabely no colégio. Antes mesmo do café, das palavras cruzadas, antes do jornal. Imagina. Não ia ser legal; ia doer, claro. Mordida de crocodilo. Não é coisa pouca. São quantos dentes? Sei lá, uma porrada? Mais de 60, no mínimo. Ia sobrar só o mingau de mim em cima da cama. Os lençóis iam se sujar muito; cena de filme.

E ele poderia até tentar ficar no meu lugar. Saindo da cama às 6:45 para lavar o rosto e escovar os dentes - 60, no mínimo - daria certinho. Imagina ele de colar e pulseirinha hippie com as chaves do carro, o celular, o Mp3, a gaita e a carteira em mãos, tomando um copo d'água antes de sair. Com sua voz gutural de crocodilo ele diria: "Quando quiser, Fabely" (ou "whenever you're ready, Fabely", se for um Alligator).

No elevador, ele iria sem camisa, mas com ela no ombro. Não sei que tipo de música ele gostaria de ouvir no carro. Pensando bem, se é crocodilo do Brasil, é do pantanal e veio lá das bandas de Goiás; deve curtir um sertanejozinho certeza. Vai escolher a pasta do Cesar Menotti no Mp3 então. A Fabely não notar a diferença entre eu e o Croc iria depender da capacidade dele de falar besteira. Em vez de às vezes dirigir segurando e movimentando o volante com o joelho esquerdo - isso ele não consegue -, o charme dele seria outro, ele pisaria nos pedais com a cauda.

Voltando para casa para o café da manhã, a Edineide certamente estranharia as coisas absurdas que ele pediria pra comer. Isso se ele não tentasse comer a Edineide. Puxa, gostei do lance da cauda. Olha aí, eu queria ter uma cauda. Aposto que ele seguraria a raquete com ela. E seria cada cacetada. O Rhamon não ia gostar acho - ele prefere cortar a defender. O Croc faria ele penar. Na hora do açaí, ele iria acabar é tentando comer os cachorros do Jojó. Não ia dar certo. Não ia dar certo mesmo. Se eu ando meio agressivo ultimamente e já até bati na mamãe, imagina ele. Caramba, mãe, cuidado com o Croc.

O papai com certeza, ao ver um crocodilo-eu vagando pela casa, logo de cara elogiaria as roupas. Exclamaria: "Olha aí, gostei de ver! Todo no couro!". E indagaria: "É de quê? Cobra?". Croc daria de ombros; jantaria o bigode mais tarde. A Alinne seria um problema. Se ela pira de alegria quando entra uma borboletinha dentro de casa, imagina um papo-amarelo de quase 3 metros. Mas acho que ela seria a única que poderia realmente desmascarar a coisa toda. Sacar que não sou eu. Perspicácia Interplanetária, é o que ela tem. Só que, de novo: se ela pira de alegria quando entra uma borboletinha dentro de casa, imagina um papo-amarelo de quase 3 metros. Vai nem lembrar de mim.

domingo, 27 de julho de 2008

Dois citados dialogam

Longa vida à contra-erudição.

(Falcão pergunta para Reginaldo)

F: Porque você é desse jeito?
R:
Que jeito? Gostoso? Inteligente?

F: Você deixaria uma filha sua namorar com Paulo Maluf?
R:
Não tenho filhas. Se tivesse deixaria. Acho o Maluf um gato.

F: Seja franco: para que serve a MPB?
R:
Qual MPB? A Música Popular Brasileira, que é para alguns caras metidos, ou a Música Popular Brega, que o povão canta, gosta e dança?

F: Se não dormir, o que gostaria de fazer durante
um show de João Gilberto?

R:
Não consigo dormir sem ar condicionado, ou seja, não conseguiria dormir no show. Ele desliga o ar condicionado porque desafina o violão.

F: Você acha que o Fernando Collor é doido ou só diferente?
R:
Dr. Fernando? Ele é muito culto, muito inteligente e vê na frente de todo mundo. Pessoas assim pagam um preço alto.

(Reginaldo pergunta para Falcão)

R: Você sabe que eu sou mais bonito e mais culto que você. Por que não pára de ser tão brega?
F:
Se eu parar, caio. Mesmo porque, tendo sido criado no mais fino ambiente brega, sou o que há de melhor no universo cafona.

R: O Ceará é uma terra de grandes humoristas. Você é mais arquiteto, mais cantor ou mais palhaço?
F:
Sou um fuleiro, o que me capacita a exercer qualquer profissão.

R: Por que eu e você somos os ícones da música que o povo gosta?
F:
Porque somos simples como a água e sinceros como um recém-nascido. Além disso, o povo ama nossa beleza clássica e nossa macheza singular.

R: Por que no comercial do 23 (Intelig) eu estava mais gostoso e mais simpático?
F:
Porque você o é.

R: Por que nos damos tão bem? Será que somos irmãos? Será que meu pai transou com sua mãe?
F:
Mamãe é mais nova que você. Mas papai tinha uma jumenta muito bonita que teve um filhote raptado, do qual nunca tivemos notícia. Devo dizer que sempre achei sua voz familiar.


(Originalmente publicado na revista Istoé Gente. Retirado deste link.)

sexta-feira, 25 de julho de 2008

Futebol - A Desfeita

(Breve retomada da série Futebol)

Entrando no msn, abre-se aquela janela "Today" com notícias e outras coisas mais.

Em destaque, na foto maior, estava Robson de Souza. Tristeza. Foi-me um baque. Legenda: "Robinho - Tchau, Pequim". E logo abaixo, em letras menores: "Real Madrid constata lesão e tira Robinho da seleção nos Jogos".

Já ia clicar, mas enxerguei no cantinho, escondido, com as letras quase que pela metade por conta da barra de rolagem, no campo Merece um Clique: "Recorde de passar roupa". Enxuto assim.

Não deu outra. O Internet Explorer não permite abrir em abas. Um teria que vir primeiro.

Perdão, Robinho, perdão.

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Admirável Mundo Novo (ou Minha Praticável Utopia)

(Futebol - Intervalo IV)

Lucas, meu caro, se isso lês sem ter lido Arco-íris Olfato, volta e faz. Cito-te ao brincar com a Xelinha. Inclusive, Raf já tinha me alertado de que havia te mostrado o texto e que você tinha se perguntado afinal do que se tratava esse "Ou seja, tenho tempo pra dar aquela revisadinha básica na outra parte que eu mandei pro lucas, que tu tinha comentado comigo." Ciente da cilada, Raf fez o que ele faz de melhor, despistar: dá de ombros, mete a unha do polegar no entre-dentes e balbucia em velocidade que não se sabe dizer se é quase devagar ou imprecisamente rápida, um "Sei lá, mah" - que soa como "êi-lá-má"; sobrancelhas levemente arqueadas, testa franzida, olhos murchos e sem destino, ora no canto ao alto, ora no canto ao chão, ora serenamente incisivos a fitar os do interlocutor, aquele a quem quer enganar. Um semblante de paz. Paulo Altran lá no alto se derrete. "Bravo, Rafael, Bravo!".

Pois é, comentei sim. Xelinha, ná época da tradução, mui desesperada, recorreu ajuda a todos nós miguxos seus de plantão. Não lembro bem, mas creio ter recebido traduções mui variadas em estilo e estética, do Rafa, do Praxedes e tuas. Foi difícil compilar a coisa toda, afinal eu já tinha todo o meu padrão de cores e termos que não deveriam ser traduzidos, os quais mereciam do órgão que faria uso dos manuais a melhor e mais devida tradução.

O que me mais chamou a atenção foram alguns dos lapsos teus. O mais bacana deles se deu numa parte de listagem de itens médicos necessários para um dado setor. Não lembro detalhes, mas era algo como "2 Crashed Boxes" ou "2 Crash Boxes". Você nem pestanejou, meteu logo um "2 caixas quebradas" e foi pra galera. Dei valor.

(Um pensamento me ocorre.)

Mas o que me motiva a falar de/para você especificamente foi algo que me disse em conversa no msn. Transcrevo:

Lucas diz:
ei
Lucas diz:
ma...
th
diz:
humm
Lucas
diz:
tu mudou um pouco o estilo dos textos do teu blog, né?
th diz:
como assim?
Lucas diz:
tpw... eu ria bastante (...) mas não rio mais tanto

É muito fela mesmo! Haha. Isso porque não trascreverei outros trechos da conversa, cabra pitaqueiro.

E não que esteja eu a obedecer algum de teus pitacos (sou livre, amarras sócio-convencionais não me interessam). Acontece que tu fostes o primeiro a me dar um feedback tremendamente alucinado das Inaugurálias que aqui se fazem, incentivo que muito me cativa - se tem um cara pirando com isso aqui, ou ao menos ensaiando pirar, ou fingindo pirar, o que seja, vale a pena pirar junto.

Agradeço, meu velho. Agora chega. Chega e lê. Que esse abaixo sim é o texto que recebe o título.

***

(Admirável Mundo Novo)

Uma dica de quem se preocupa com o mundo.
Não, duas. Duas dicas.

Vidro quebrado não é para ir direto para o lixo. Fór Gád's Seique, pessoal! Preocupemo-nos com aqueles que, não tão afortunados quanto nós que temos quem nos recolha o lixo todos os dias, têm que em segunda mão recolhê-lo para, com sorte, encontrar algo que se aproveite.

Sempre desvencilhe a cueca do calção. Não custa nada. Não que a lavadeira, a empregada, sua mãe, a matriarca, sua esposa, sua namorada, sua irmã, sua ficante, a outra ficante, sua amante, sua prima, sua tia, ou sua vÓ (!) não terá que por fim ter de cheirar o mijo que é teu, bonitão. Mas, de novo, não custa nada. De preferência, não a deixe do avesso também. Sentir é lembrar, tocar é quase ver, cheirar é como degustar, ouvir é ouvir e não há nada mais abstrato ("A música é a mais abstrata das artes", ouvi Carlos Augusto Viana dizer certa vez). Na cueca toda enrolada há um quê do despir-se teu, animal. É como pessoas que têm nojo de comer panelada, buchada e afins; é a coisa mais gostosa do mundo, há de ser num futuro distante, ou numa praticável sociedade utópica, o que o chocolate é hoje. Mas não, não se come pelo mero resquício factual de que fezes passaram pelas tripas do animal. Isso é bobagem, mas respeito os que o fazem por pensar assim. E por respeitar pessoas com tal (in)sensibilidade é que dou a dica. Sempre desvencilhe a cueca do calção.

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Arco-íris Olfato

(Futebol - Intervalo III)

E como calcinhas me rondam a cabeça, lembrei-me de um email de agradecimento que recebi de minha querida amiga Xelinha (VI Post Inaugural). Ela, engajadíssima graduanda em Odontologia pela Universidade Federal do Ceará, recebeu como tarefa ter de traduzir do inglês alguns manuais.


Fazendo curta história
longa, o trabalho de corno sobrou mais para mim. Ralei. Quase que morro. Favores com prazo são uma merda. Dá-se nó em não sei que parte das emoções. É uma vontade de demonstrar/fazer valer a amizade pela trabalheira, ao mesmo tempo que incendeia dentro um anseio por turn the foda-se on - não seria o meu na reta mesmo. E traduzir é uma tarefa deveras árdua, porque enquanto o entendimento de dados trechos pode vir fácil, tremendamente difícil pode ser a transcrição para palavras do idioma-destino. Ou o contrário: trechos de difícil entendimento, que muito exigem pesquisa para tradução, escritos com palavras muito naturais no outro idioma.

Mas, sim, traduzi a parada com afinco. Não relaxei em frase nenhuma. Tudo que merecia recebeu seu devido grifo ou explicação. Dei meu melhor.

Ela notou. Aqui o email:


Thithizinhu querido! Não tenho palavras pra descrever minha gratidão pelo que tu fez, thithizinhu!!! Sei que você perdeu a tarde inteira fazendo o resto da tradução que eu mandei pra ti (aquilo tudinho de verde), corrigiu algumas coisinhas nas 6 primeiras páginas e ainda deu uma pincelada no restante do arquivo. Meu amiguinho, tu não tem noção o quanto eu estou agradecida. Tipo, eu sei que não deu pra tu ajeitar tudo, mas do que eu tinha te pedido tu fez foi mais do que o impossível! E, ei, recebi um email do matheus dizendo que ele queria as traduções para - pasme - até o fim de janeiro! Ou seja, tenho tempo pra dar aquela revisadinha básica na outra parte que eu mandei pro lucas, que tu tinha comentado comigo.

Pois é, thithi, já sei até mais ou menos como te recompensar. Penso em liberar pra ti uma coleção de calcinhas das minhas amigas. E olha que lá na odonto tem até quem libere é logo 4 de uma vez só quando souber que foi com as traduções que tu me ajudou. Thithi, presta não, teu nariz vai é sangrar, menino, de tanta coisa que tu vai ter pra cheirar. E vai ser de todo tipo também! Que brilha no escuro, brilha no claro, derrete no quente, cura pigarro, sabor de cereja, cheiro de cigarro, cor verde-limão, magenta-paixão, que muda de cor, aroma de flor, com cheiro de amor e - chega de rima, thithi - tem até uma de uma professora minha lá que espanta muriçoca. Juro! Espanta muriçoca! Vou ver se separo também a minha que usei no reveillon. Ela é bem bonitinha. Azulzinha. Tem os dizeres na frente: "2008, VEM!".

HEAUEHAHAEUHHUHUEAU! Obrigada, Thithi!


Só para constar, até agora ganhei só uma pulserinha de borracha. E, não, ela não tem cheiro.

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Futebol - Anotações III

(Caderninho, dia 12 de setembro do ano passado)

Setembro tem equinócio. Ou solstício, não lembro. Isso é importante. Procuro por criatividade, algo inusitado. Ela diz que não precisa. Sacanagem. É fácil fazer gol com com o Eto'o, ou com o Saviola, no cara-a-cara com o goleiro. Quero ver Pitu balançar a rede. No meu time, Pitu é titular.

Futebol - A'rte'm torcer

(Breve histórico de um ex-torcedor)

Quando era pequeno eu torcia para o Ceará. Para o Ceará e para o São Paulo. Eu era um torcedorzinho fanático. Tinha camisa do São Paulo, número sei lá qual, e frequentava os estádios nos jogos do Ceará. Estive inclusive num dos jogos de maior público do estádio Castelão, Ceará X Grêmio, final da Copa do Brasil de 1994.

Meu irmão torcia para o Palmeiras. Tenho certa lembrança da final do Brasileirão de 1994. Lembro da taça. Pesquisando aqui, vejo que a final foi contra o Corinthians. Palmeiras campeão. Assistimos a esse jogo. Não lembro onde estava minha paixão pelo São Paulo. Tornei-me Palmeirense.

Não sei como se deu esta mudança, mas meu irmão passou a torcer para o Corinthians. Não deu outra, acompanhei. Tornei-me Corinthiano.

Era eu um legítimo alvinegro então. Ceará e Corinthians.

Não sei como ou quando, deixei de acompanhar as pelejas locais. Apaulistanei-me. Só Corinthians me apetecia.

E como apetecia.

Mas deixou de apetecer. Acompanhei como fiel torcedor sua trajetória só até os idos de 2000, ano do controverso título mundial. A campanha de vice-campeonato no Brasileirão, contra o Santos, eu até vi mais ou menos, em 2002.

Em 2004, tive uma recaída e acompanhei com afinco a trajetória ao título paulista. Até ganhei 5 reais numa aposta contra um amigo são-paulino.

Em 2005, passei a dizer-me torcedor do Fortaleza, mas só por conta do retorno à série A e deixava isso bem claro. A intenção era de, de certa forma, "apoiar" (embora quem de fato faça isso seja quem torce período integral, seja na boa ou má fase) o futebol local. Valorizar a conquista. Mas nunca acompanhei deveras.

***

(Saudosimos)

Sinto falta da paixão cega de quem torce. Sinto falta de defender a todo custo essa paixão. Sinto falta da angústia da derrota, do empate apertado, da vitória difícil. E sinto falta de preferir não sentir essa angústia, de torcer pela vitória fácil, querer sempre goleada.

Vez e outra, engano-me com uma pontinha do sabor.

Sinto falta de ser torcedor deveras.

***

(Fatos)

Dizia-me corinthiano mas torci por sua queda à segunda divisão. Só pelo inusitado da situação.

Apaixonado pelo Ceará quando pirralho, eu vibrei com a subida do Fortaleza. Idem.

Ensaio até hoje dizer-me torcedor do Ferroviário. Só por causa do que certa vez li escrito por Falcão (esse não, esse) na orelha de um livro sobre o time. Não lembro bem, mas era algo sobre a famosa formação tática de "ataque em xis e defesa em zigue-zague". Tudo pelo inusitado.

Acho que gosto mesmo é de teimar.

(Ou, para manter a entoada, "gosto mesmo é de teimar deveras".)

***

(Porque violência também é arte)

Ouvi de um professor de história meu certa vez que "muito ganharia o Brasil se extinguissem os estádios, as igrejas e a televisão". O comentário tem lá sua graça e faz lá sua crítica, mas, convenhamos, é tão tendeciosamente polêmico quanto absurdo. Não falo pelos aspectos religioso e televisivo (essa série de textos chama-se "Futebol"), embora pudesse; discordo da frase inteira.

Não tenho certeza, mas creio que o professor até fez uso de um dos mais imediatos dos trocadilhos, "Torcida Des-organizada". E falou de violência, brigas dentro e fora dos estádios, do ódio cego e imbecil que alimentam torcidas rivais, mortes, tragédias. A platéia pueril concordamos quase que totalmente em tudo que nos era lecionado. Anotamos no caderno, logo abaixo do título "Feudalismo", "muito ganharia o Brasil se...". Brinco, nada foi anotado. (Isso me lembra daqueles que pregam que nosso país não é sério, porque "onde já se viu uma nação parar por uma semana inteira em feriado?", mas morrem de beber e fazer tudo quanto é marmota durante todo o "vergonhoso" carnaval.)

O raciocínio do catedrático peca pela pressa, por interferência do gosto pessoal e por espontânea vontade (ele bem quis fazer polêmica só pelo sabor de defender uma causa absurda). Pois, alegando motivação semelhante, pode-se defender a proibição do uso de automóveis. Pode-se proibir o cigarro (olha só...), as bebidas alcoólicas (não!) e, com um pouco de catimba, legalizar a maconha. Pois o Brasil muito teria a ganhar se anulados fossem os acidentes de trânsito, os malefícios do tabaco e do álcool, e se permitido fosse fazer uso das propriedades psico-terapêuticas da erva... Com argumentos absurdos chega-se a qualquer lugar. "Dá-me um ponto de apoio, que erguerei o mundo!"(definitivamente, não sou bom com dizeres...).

Os criminosos também amam. Os criminosos também choram. Os criminosos também torcem para times de futebol. E choram, porque torcem para times de futebol; torcem para times de futebol, porque amam; amam, porque choram. Ou é tudo ao contrário; sei lá quem é quem nessas causas-e-efeitos. Os maus-caracteres também têm a benção do livre-arbítrio. Por isso torcem; por isso podem vir a se tornarem criminosos.

A violência nos estádios se deve aos maus-caracteres das arquibancadas da vida.

Podem então indagar quanto aos jovens torcedores de boas famílias, com bons históricos escolares em boas escolas que, fisgados pelo temeroso nevoeiro do qual se munia com estatísticas meu professor, explodem bombas, jogam pedras, disparam tiros e matam. Entristece-me também. Digo apenas que tais acontecimentos não se dão por culpa dos estádios (ou da religião, ou da televisão...), logo não seria cabível estingui-los por busca de uma solução.

E digo: numa sociedade de praticável utopia, as cadeias seriam igualmente abarrotadas como hoje elas são. Pois ainda se mataria por amor, por ciúme, por ódio, por paixão. Ainda se roubaria por inveja, por ganância. Todos são sentimentos sinceros e naturais do homem. Escapar disso é morrer.

Conecto e adapto dois trechos para resumir em conclusão. A culpa não é dos estádios, palcos do mundo; a culpa é dos maus-caracteres das arquibancadas da vida.

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Futebol - Acréscimos

Existe um quê de magia nas coisas que acontecem nos acréscimos. É como o estudo em cima da hora, na super-véspera da prova. A urgência do tempo que se encerra clama por definição, seja ela uma formuleta mal decorada que salva uma questão inteira ou um desesperador passear de olhos por folhas e folhas que não constata muito além do óbvio e trágico fim - o que, futebolístico-equivalente, seria: um gol daqueles que desvia de leve no zagueiro ou o correr esperançosamente temeroso e arriscado do goleiro que vai à área adversária.

O estudo de véspera (falo do estudo de véspera, mas não do d'aqueles que manjam, aqueles que estão só a dar o que seria uma leve revisada para quem já estudou muito mais) e as partidas de futebol em seus derradeiros minutos carregam como pesada cruz a dupla faceta que dá alma ao teatro e a quase tudo na vida, o riso e o choro. É um tudo ou nada todo vacilante, nada definido. Dúbio. Débil quando pouco se consegue aproveitar. Mágico quando muito se aproveita.

Falando em acréscimos e "um gol daqueles que desvia de leve no zagueiro" e "mágico quando muito se aproveita", chego ao que de fato me motivou a escrever sobre o assunto. De novo, Turquia. De novo, Turquia X Croácia. Gol aos 16:16 do segundo tempo de uma prorrogação com tempo de acréscimo de 1 minuto é algo que por definição, convenhamos, não existe. Faz a continha, não existe. E ainda mais do jeito que se deu. Uma falha do goleiro Rüştü (não me perguntem como escrevi esse s com cedilha, trapaceei) acarretou em gol da Croácia aos 13 minutos do mesmo período. Juro que me doeu a alma; a Croácia jogou muito, mas a Turquia havia dominado freneticamente a partida inteira. Tomar um gol dessa forma e só restando 3 minutos para a decisão nos pênaltis é coisa de encabular Allāh. Mas, sem essa, pouco antes dos cabalísticos 16:16, Rüştü, quase no meio de campo, sapeca um chutão que faz a bola parar lá na casa do chapéu dentro da área adversária; daí, paulada, desvio e tchau. (Em imagens.)

O interessante é que um gol tão urgente assim só aconteceu por conta do gol tomado; provavelmente, se não fosse o gol croata, a partida, sem mais muitas emoções, iria naturalmente para os pênaltis. Sou bom em usar dizeres de forma errada (às vezes, costumo dizer "colher de madeira, espeto de pau" e aplicando ainda o que seria o ditado certo na situação um tantinho errada) e essa situação me parece ser uma variação um bocado torta do "a ocasião faz o ladrão". Ou de, como canta Nando Reis em "Hoje mesmo": "O filho (é quem) cria a mãe".

E não deixa de ser o bom e velho "não desistir" em sua mais pura essência. Sei que é difícil, mas é importante não deixar de escorregar os olhos por todas aquelas folhas, mesmo quando a vontade é de entregar logo tudo a Deus (ou a Allāh), pois, eu nunca vi, mas pode ser que o goleiro, baixinho que seja, desesperadamente desacreditado suba mais alto e cabeceie a pelota gordinha para os fundos do maleável quadriculado.

Tem gol que não existe, mas vale mesmo assim.

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Futebol - O Fim (Outro pê-éssi)

Ainda Ronaldinho, ainda arte. Os primeiros 20 segundos bastam.

Futebol - O Fim (Um pê-éssi)

Em tempo, Ronaldinho Gaúcho é arte, pois, convenhamos, malabarismo é arte. Do Garoto Messi só se vê uma balangada no saco, aos 15 segundos de vídeo.

Futebol - Anotações II

(Caderninho, dia 22 de junho do ano passado - noite)

Aprendi algumas coisas jogando futebol. Coisas da vida. Não que as tenha compreendido. Aprendi a senti-las. Ou era só cansaço, não sei.

domingo, 6 de julho de 2008

Futebol - Anotações I

(Caderninho, dia 22 de junho do ano passado)

A bola é velha e o gramado já não há (ou nunca houve). Um garoto. Magro, moleque, suado, sem camisa. O pé pisa a poeira, que levanta. É diferente da bola high-tech que rola macia num gramado de um estádio que suporta oitenta mil pessoas. É diferente do homem. Forte, tático; suada é a camisa do logotipo que patrocina. A chuteira arranca um tufo da grama. É diferente demais. É como o sol ao longo do dia. Pronto, está explicado.

sábado, 5 de julho de 2008

Futebol - O Fim

No dia 19 do mês passado, Airton Monte publicou "Necrológio".

Começa com:

"De uma coisa infelizmente estou certo e muito me dói dizê-la: o futebol-arte está agonizando, está às portas da morte. De nada adianta vir com lamúrias, desculpas esfarrapadas, elocubrações táticas, botar a culpa nas patas dos técnicos ou no lombo dos jogadores. A grande verdade, embora alguns possam me considerar pessimista ou um renitente purista congelado no passado, é de que não há mais craques filigranando pelos gramados do mundo. A era dos virtuoses da bola acabou-se e estamos vivendo e sofrendo na pele a infeliz e tosca era dos bonzinhos.
"

E termina num:

" O futebol está cada vez mais se tornando um jogo sem graça, não se vê mais espetáculo, mas somente uma triste caricatura do que foi em tempos idos. Entanto, estou conseguindo, com muita dor, deixar de enganar a mim mesmo por um ou outro raro lance excepcional, que são cada vez mais raros. O futebol virou 'ouro de tolo' e nossos craques vivem de aparências feito fantasmas que ainda não acreditam que já estão mortos e enterrados."


(O resto dessa crônica, e todas outras publicadas em sua coluna no caderno
Vida & Arte do jornal O Povo, pode ser lido neste link. Recomendo leitura posterior de "As Palavras" - 17/06. É um inspirador incentivo a todos aqueles que se aventuram a escrever.)

Dada a força das palavras do poeta, não consegui deixar de concordar em tudo que vi ali escrito (deixo-me levar fácil se é belo e me cativa). Tanto concordei que, finda a leitura, olhei para o vazio entre mim e os objetos a minha frente e tudo insurgiu tão profundamente verdadeiro que segurei por uns instantes a interjeição "égua" na mente enquanto observava o vazio cada vez menos vazio (o vazio a esvaziar-se) e os objetos - seja lá o que isso signifique - cada vez mais objetos. Tanto concordei que, finda leitura, bem poderia ter dito "que descanse em paz" e baixado a cabeça enquanto, de olhos fechados, fizesse o sinal da cruz.

Mal sabia eu o que me aguardava no dia seguinte.

Dia 20, Turquia X Croácia. "Puta jogaço" seria suficiente dizer, se não estivesse escrevendo. Mas já que escrevo, me pergunto, aquilo não é futebol-arte? Não é? O que é aquilo? Não sei e não me arrisco. Só sei que me bateu uma frenesi enquanto assistia àquele jogo que de imediato me fez repensar (n)o que lera na véspera. A Turquia joga diferente. É rápida, a plenos pulmões, com vigor e vontade. "Bla, mas não tem arte!" podem dizer, e eis que surge sozinha, sem o meu intervir, a pergunta: E o que é arte? "Arte é Ronaldinho Gaúcho" dirão, ao mesmo tempo que alguém pipoca um "nada, aquilo é malabarismo"; "Arte é Falcão nas quadras de futsal", vá lá, dirão "idem, malabarismo"; "Arte é Zidane, que mata no peito enquanto corre a toda e gira para dominar a bola, dá um passe de 40 metros ou acerta no ângulo e de primeira um chute cavalar que Einstein profetizou só 2% da humanidade ser capaz de acertar" eu diria, mas alguém rebateria "Zidane é um careca cabeçudo". Tudo bem, deixa estar. Mas, se não é arte aquilo que a Turquia fez nesse e noutros jogos, é outra coisa que, difícil de ler, só se fala em turco, mas que, se traduzida para o português, não faz surgir outra palavra que não a que se negou. Arte, meus caros. Arte.

terça-feira, 1 de julho de 2008

Caralhamba

(Texto para um concurso da revista piauí, tal qual o em "Os arpejos de mamãe...". A frase proposta desse eu digo ao final, para que não se condicione a caçá-la.)

“Som, ei, som”. Um estampido oco sai da caixa de som mais à direita. “Som, ei, ei. Marquinho, você escuta daí?”. Microfonia, caretas, nova microfonia.

Era um leilão dessa vez. Leilãozinho na verdade, e de mentirinha para ser mais exato. Marcos – o Marquinho ao qual se referiu o senhor que faria as vezes de leiloeiro, seu pai – cuidava da mesa de som, que emprestara para a festinha no colégio da irmã. Certamente esse seria o pior negócio do mês. O aluguel da aparelhagem, por ordem da mãe, teria preço tão simbólico que realmente parecia um empréstimo; um empréstimo a troco de fatias de bolo, refrigerante e salgadinhos. “Queria ser caçula”, repetia mentalmente sempre que se via refém das vontades da coisinha-linda-do-papai. Papai este agora bravo ao microfone: “Marquinho, dá pra ouvir ou não dá, porr...”. Percebendo a tempo o xingamento descabido para a faixa etária local, ensaiou uma mudança brusca: “...rawl, rau, raô, a-ô, som. Ei, som”. Baixou os olhos abanando a cabeça com um riso contido enquanto recebia a resposta afirmativa do filho, que erguia os dois polegares para o alto e sorria largo, apreciando a gafe disfarçada com maestria. “Aprende, filhão”, sussurrou o pai; não mais disfarçava o sorriso, mostrando dentição igual a de Marcos. Toda a excitação do pai o fazia lembrar um amigo que imitava muito bem um leiloeiro de gado de um canal na tv; nada elogioso, fazia mais por chacota.

Na verdade, ele implicava com leiloeiros; apreciava mais os falsários e tinha lá seus motivos. Contara para Marcos certa vez a sua versão de um ocorrido um tanto constrangedor - coisa besta, mas que teve repercussão na imprensa local e quase intervenção da polícia. O pai e o tio do rapaz estiveram envolvidos com o lado criminoso da história, que combinava intrigas pessoais, relógios coreanos e um pai de santo mal-intencionado. Os acontecimentos eram confusos, mas ficava clara a não inocência dos dois. Mesmo assim, o amigo tendenciosamente os defendia e...

A lembrança lhe foi quebrada pela tosca imagem de uma menina tentando matar outra lhe puxando os cabelos. Apressou-se tomado pelo susto de reconhecer a própria irmã na cabeça que balançava de um lado para o outro, guiada pelas mãos vorazes da amiguinha. Num tabefe rápido – ao estilo “pedala” – e com uma puxadinha de cabelo que ergueu a cabeça da agressora, conseguiu a distração que queria para arrancar a pequenina vítima do perigo. Por sorte, nenhuma mãe percebeu aquele bravo irmão em ação; se muito, viram apenas o rapaz da mesa de som com pressa carregando um pacote todo assanhado no colo.

Passado o susto, a paz; criança se distrai fácil. Após o arremate do último item, o pai de Marcos, ainda empolgado com o próprio desempenho, apontando para o filho e sem se desfazer da voz empostada, sentenciou o início da festinha: “Solta o som Dj!”. Ao se virar para sair de cena, tropeçou no cabo do microfone e proferiu uma segunda sentença: “Caralh...”. Essa não deu para disfarçar. Todo mundo percebeu.

Caralhamba” não existe.


(A frase era "ele implicava com leiloeiros; apreciava mais os
falsários".)