segunda-feira, 28 de julho de 2008

O Croc

(Um auto-retrato de mim em 03/03 desse ano. Aproveito-me para epífrase de nota a qual darei continuidade ainda e, embora de madrugada bem mais recente que a da concepção deste texto - que, em verdade, deu-se em pleno dia, lembro bem - , e embora também motivada tenha-me sido por outras questões (no bloco de notas que a contém, segue em parêntesis "papai, pc do b, quarto grátis, amanhecer e ver estátuas que dormem, todas cinzas-vermelhas", não insurge como forçada a relação entre um e o outro. Permitam-se descobri-la. Talvez em breve eu escreva do significado de nota outra que me brotou agorinha enquanto escrevo estas palavras: "Niemeyer e seu sopro, Eu e meu samba, Humberto e música qual não lembro, Lulu Santos e os tempos modernos que não voltam, Anitelli e o tudo, Kiske e o pouco tempo que todos temos". Entender-se-á.

Lembro. O mote "Imagina se um crocodilo vem e me pega" veio-me. Permiti-me dar-lhe graça. Dei. Permiti-me um pouco mais e ele foi surgindo aos poucos, aos parágrafos, devidamente planejados em espontaneidade. Homenagiei todos aqueles que me cercavam à época. Digo "permiti-me", mas mal sabia eu o que significava isso. De novo, entender-se-á, se o pouco que se entende dessas tortas e meias palavras entende-se mal. Afinal, sobre o que é o Inaugural?

Tudo a seu tempo, caros.)

"Sejamos todos clandestinos em nosso ser e íntimo pensar. Há mais sinceridade nas coisas que não se permite"


Imagina se um crocodilo vem e me pega. Eu morro. Se ele viesse sorrateiro, o safado, e me devorasse antes mesmo de eu sair da cama. Antes de eu levantar e ir deixar a Fabely no colégio. Antes mesmo do café, das palavras cruzadas, antes do jornal. Imagina. Não ia ser legal; ia doer, claro. Mordida de crocodilo. Não é coisa pouca. São quantos dentes? Sei lá, uma porrada? Mais de 60, no mínimo. Ia sobrar só o mingau de mim em cima da cama. Os lençóis iam se sujar muito; cena de filme.

E ele poderia até tentar ficar no meu lugar. Saindo da cama às 6:45 para lavar o rosto e escovar os dentes - 60, no mínimo - daria certinho. Imagina ele de colar e pulseirinha hippie com as chaves do carro, o celular, o Mp3, a gaita e a carteira em mãos, tomando um copo d'água antes de sair. Com sua voz gutural de crocodilo ele diria: "Quando quiser, Fabely" (ou "whenever you're ready, Fabely", se for um Alligator).

No elevador, ele iria sem camisa, mas com ela no ombro. Não sei que tipo de música ele gostaria de ouvir no carro. Pensando bem, se é crocodilo do Brasil, é do pantanal e veio lá das bandas de Goiás; deve curtir um sertanejozinho certeza. Vai escolher a pasta do Cesar Menotti no Mp3 então. A Fabely não notar a diferença entre eu e o Croc iria depender da capacidade dele de falar besteira. Em vez de às vezes dirigir segurando e movimentando o volante com o joelho esquerdo - isso ele não consegue -, o charme dele seria outro, ele pisaria nos pedais com a cauda.

Voltando para casa para o café da manhã, a Edineide certamente estranharia as coisas absurdas que ele pediria pra comer. Isso se ele não tentasse comer a Edineide. Puxa, gostei do lance da cauda. Olha aí, eu queria ter uma cauda. Aposto que ele seguraria a raquete com ela. E seria cada cacetada. O Rhamon não ia gostar acho - ele prefere cortar a defender. O Croc faria ele penar. Na hora do açaí, ele iria acabar é tentando comer os cachorros do Jojó. Não ia dar certo. Não ia dar certo mesmo. Se eu ando meio agressivo ultimamente e já até bati na mamãe, imagina ele. Caramba, mãe, cuidado com o Croc.

O papai com certeza, ao ver um crocodilo-eu vagando pela casa, logo de cara elogiaria as roupas. Exclamaria: "Olha aí, gostei de ver! Todo no couro!". E indagaria: "É de quê? Cobra?". Croc daria de ombros; jantaria o bigode mais tarde. A Alinne seria um problema. Se ela pira de alegria quando entra uma borboletinha dentro de casa, imagina um papo-amarelo de quase 3 metros. Mas acho que ela seria a única que poderia realmente desmascarar a coisa toda. Sacar que não sou eu. Perspicácia Interplanetária, é o que ela tem. Só que, de novo: se ela pira de alegria quando entra uma borboletinha dentro de casa, imagina um papo-amarelo de quase 3 metros. Vai nem lembrar de mim.

4 comentários:

Unknown disse...

Quem sabe ele não oferecesse uma resistência melhor no WE né?

Unknown disse...

que show thiagao, sério mesmo... achei mt massa.. e sinceridade, eu acho q na hr tu q ia comer ele. não sei como, mas ia =p.

raquelholanda disse...

mto, mto legal.
divertidíssimo. criativo. massa.
se permita sempre para conceber texto bom assim.
esse merecia uma série, vários capítulos, novos episódios, uma outra versão... sei lá... acho que me empolguei. rsrrsrs.

e, olha, cuidado com o Croc. rsrsrs.

th. disse...

rf.:

Meu caro, se eu já atropelo, imagina um crocodilo-eu.

Tá, vou fingir que perdi alguma partida ontem: puutz, realmente, quem sabe ele não oferecesse uma resistência melhor no WE, né?

(E olha que Cris Rônald quase não foi escalado...)

rhamon:

mah, na moral, não como ninguém.

raquel:

Não, não, raquel. Cuidado você! com o Croc... :P