quarta-feira, 9 de julho de 2008

Futebol - Acréscimos

Existe um quê de magia nas coisas que acontecem nos acréscimos. É como o estudo em cima da hora, na super-véspera da prova. A urgência do tempo que se encerra clama por definição, seja ela uma formuleta mal decorada que salva uma questão inteira ou um desesperador passear de olhos por folhas e folhas que não constata muito além do óbvio e trágico fim - o que, futebolístico-equivalente, seria: um gol daqueles que desvia de leve no zagueiro ou o correr esperançosamente temeroso e arriscado do goleiro que vai à área adversária.

O estudo de véspera (falo do estudo de véspera, mas não do d'aqueles que manjam, aqueles que estão só a dar o que seria uma leve revisada para quem já estudou muito mais) e as partidas de futebol em seus derradeiros minutos carregam como pesada cruz a dupla faceta que dá alma ao teatro e a quase tudo na vida, o riso e o choro. É um tudo ou nada todo vacilante, nada definido. Dúbio. Débil quando pouco se consegue aproveitar. Mágico quando muito se aproveita.

Falando em acréscimos e "um gol daqueles que desvia de leve no zagueiro" e "mágico quando muito se aproveita", chego ao que de fato me motivou a escrever sobre o assunto. De novo, Turquia. De novo, Turquia X Croácia. Gol aos 16:16 do segundo tempo de uma prorrogação com tempo de acréscimo de 1 minuto é algo que por definição, convenhamos, não existe. Faz a continha, não existe. E ainda mais do jeito que se deu. Uma falha do goleiro Rüştü (não me perguntem como escrevi esse s com cedilha, trapaceei) acarretou em gol da Croácia aos 13 minutos do mesmo período. Juro que me doeu a alma; a Croácia jogou muito, mas a Turquia havia dominado freneticamente a partida inteira. Tomar um gol dessa forma e só restando 3 minutos para a decisão nos pênaltis é coisa de encabular Allāh. Mas, sem essa, pouco antes dos cabalísticos 16:16, Rüştü, quase no meio de campo, sapeca um chutão que faz a bola parar lá na casa do chapéu dentro da área adversária; daí, paulada, desvio e tchau. (Em imagens.)

O interessante é que um gol tão urgente assim só aconteceu por conta do gol tomado; provavelmente, se não fosse o gol croata, a partida, sem mais muitas emoções, iria naturalmente para os pênaltis. Sou bom em usar dizeres de forma errada (às vezes, costumo dizer "colher de madeira, espeto de pau" e aplicando ainda o que seria o ditado certo na situação um tantinho errada) e essa situação me parece ser uma variação um bocado torta do "a ocasião faz o ladrão". Ou de, como canta Nando Reis em "Hoje mesmo": "O filho (é quem) cria a mãe".

E não deixa de ser o bom e velho "não desistir" em sua mais pura essência. Sei que é difícil, mas é importante não deixar de escorregar os olhos por todas aquelas folhas, mesmo quando a vontade é de entregar logo tudo a Deus (ou a Allāh), pois, eu nunca vi, mas pode ser que o goleiro, baixinho que seja, desesperadamente desacreditado suba mais alto e cabeceie a pelota gordinha para os fundos do maleável quadriculado.

Tem gol que não existe, mas vale mesmo assim.

Um comentário:

Unknown disse...

Torcedor de time pequeno sabe bem como acréscimos podem ser cruéis também. Já vi o meu leão ser rebaixado por pontos perdidos nos acréscimos...evite até falar disso perto do papai, por sinal, ele pode ficar sentido ;P

belo texto fi \o