sábado, 5 de julho de 2008

Futebol - O Fim

No dia 19 do mês passado, Airton Monte publicou "Necrológio".

Começa com:

"De uma coisa infelizmente estou certo e muito me dói dizê-la: o futebol-arte está agonizando, está às portas da morte. De nada adianta vir com lamúrias, desculpas esfarrapadas, elocubrações táticas, botar a culpa nas patas dos técnicos ou no lombo dos jogadores. A grande verdade, embora alguns possam me considerar pessimista ou um renitente purista congelado no passado, é de que não há mais craques filigranando pelos gramados do mundo. A era dos virtuoses da bola acabou-se e estamos vivendo e sofrendo na pele a infeliz e tosca era dos bonzinhos.
"

E termina num:

" O futebol está cada vez mais se tornando um jogo sem graça, não se vê mais espetáculo, mas somente uma triste caricatura do que foi em tempos idos. Entanto, estou conseguindo, com muita dor, deixar de enganar a mim mesmo por um ou outro raro lance excepcional, que são cada vez mais raros. O futebol virou 'ouro de tolo' e nossos craques vivem de aparências feito fantasmas que ainda não acreditam que já estão mortos e enterrados."


(O resto dessa crônica, e todas outras publicadas em sua coluna no caderno
Vida & Arte do jornal O Povo, pode ser lido neste link. Recomendo leitura posterior de "As Palavras" - 17/06. É um inspirador incentivo a todos aqueles que se aventuram a escrever.)

Dada a força das palavras do poeta, não consegui deixar de concordar em tudo que vi ali escrito (deixo-me levar fácil se é belo e me cativa). Tanto concordei que, finda a leitura, olhei para o vazio entre mim e os objetos a minha frente e tudo insurgiu tão profundamente verdadeiro que segurei por uns instantes a interjeição "égua" na mente enquanto observava o vazio cada vez menos vazio (o vazio a esvaziar-se) e os objetos - seja lá o que isso signifique - cada vez mais objetos. Tanto concordei que, finda leitura, bem poderia ter dito "que descanse em paz" e baixado a cabeça enquanto, de olhos fechados, fizesse o sinal da cruz.

Mal sabia eu o que me aguardava no dia seguinte.

Dia 20, Turquia X Croácia. "Puta jogaço" seria suficiente dizer, se não estivesse escrevendo. Mas já que escrevo, me pergunto, aquilo não é futebol-arte? Não é? O que é aquilo? Não sei e não me arrisco. Só sei que me bateu uma frenesi enquanto assistia àquele jogo que de imediato me fez repensar (n)o que lera na véspera. A Turquia joga diferente. É rápida, a plenos pulmões, com vigor e vontade. "Bla, mas não tem arte!" podem dizer, e eis que surge sozinha, sem o meu intervir, a pergunta: E o que é arte? "Arte é Ronaldinho Gaúcho" dirão, ao mesmo tempo que alguém pipoca um "nada, aquilo é malabarismo"; "Arte é Falcão nas quadras de futsal", vá lá, dirão "idem, malabarismo"; "Arte é Zidane, que mata no peito enquanto corre a toda e gira para dominar a bola, dá um passe de 40 metros ou acerta no ângulo e de primeira um chute cavalar que Einstein profetizou só 2% da humanidade ser capaz de acertar" eu diria, mas alguém rebateria "Zidane é um careca cabeçudo". Tudo bem, deixa estar. Mas, se não é arte aquilo que a Turquia fez nesse e noutros jogos, é outra coisa que, difícil de ler, só se fala em turco, mas que, se traduzida para o português, não faz surgir outra palavra que não a que se negou. Arte, meus caros. Arte.

Um comentário:

Unknown disse...

zidane um careca cabeçudo uma ova...
heresia dessas eu nem ouço ;P