zelo pelo meu direito de ir
pelomeudireitodeirr
meu direito de ir
direitodeirr
de ir
deirr
irr-e-rir
E o meu direito de rir começa quando o de vocês começa também.
Pois é para rirmos todos juntos.
E por mais que não riam comigo, não gostem, não entendam, ou mesmo por não ter mesmo graça, Zelo pelo meu direito de rir, E ir, Ou irr.
O riso que sai só vai não vem.
Zelo pelo meu direito de irr.
irr-e-rir.
quinta-feira, 31 de julho de 2008
rirvirar
segunda-feira, 28 de julho de 2008
O Croc
(Um auto-retrato de mim em 03/03 desse ano. Aproveito-me para epífrase de nota a qual darei continuidade ainda e, embora de madrugada bem mais recente que a da concepção deste texto - que, em verdade, deu-se em pleno dia, lembro bem - , e embora também motivada tenha-me sido por outras questões (no bloco de notas que a contém, segue em parêntesis "papai, pc do b, quarto grátis, amanhecer e ver estátuas que dormem, todas cinzas-vermelhas", não insurge como forçada a relação entre um e o outro. Permitam-se descobri-la. Talvez em breve eu escreva do significado de nota outra que me brotou agorinha enquanto escrevo estas palavras: "Niemeyer e seu sopro, Eu e meu samba, Humberto e música qual não lembro, Lulu Santos e os tempos modernos que não voltam, Anitelli e o tudo, Kiske e o pouco tempo que todos temos". Entender-se-á.
Lembro. O mote "Imagina se um crocodilo vem e me pega" veio-me. Permiti-me dar-lhe graça. Dei. Permiti-me um pouco mais e ele foi surgindo aos poucos, aos parágrafos, devidamente planejados em espontaneidade. Homenagiei todos aqueles que me cercavam à época. Digo "permiti-me", mas mal sabia eu o que significava isso. De novo, entender-se-á, se o pouco que se entende dessas tortas e meias palavras entende-se mal. Afinal, sobre o que é o Inaugural?
Tudo a seu tempo, caros.)
"Sejamos todos clandestinos em nosso ser e íntimo pensar. Há mais sinceridade nas coisas que não se permite"
E ele poderia até tentar ficar no meu lugar. Saindo da cama às 6:45 para lavar o rosto e escovar os dentes - 60, no mínimo - daria certinho. Imagina ele de colar e pulseirinha hippie com as chaves do carro, o celular, o Mp3, a gaita e a carteira em mãos, tomando um copo d'água antes de sair. Com sua voz gutural de crocodilo ele diria: "Quando quiser, Fabely" (ou "whenever you're ready, Fabely", se for um Alligator).
No elevador, ele iria sem camisa, mas com ela no ombro. Não sei que tipo de música ele gostaria de ouvir no carro. Pensando bem, se é crocodilo do Brasil, é do pantanal e veio lá das bandas de Goiás; deve curtir um sertanejozinho certeza. Vai escolher a pasta do Cesar Menotti no Mp3 então. A Fabely não notar a diferença entre eu e o Croc iria depender da capacidade dele de falar besteira. Em vez de às vezes dirigir segurando e movimentando o volante com o joelho esquerdo - isso ele não consegue -, o charme dele seria outro, ele pisaria nos pedais com a cauda.
Voltando para casa para o café da manhã, a Edineide certamente estranharia as coisas absurdas que ele pediria pra comer. Isso se ele não tentasse comer a Edineide. Puxa, gostei do lance da cauda. Olha aí, eu queria ter uma cauda. Aposto que ele seguraria a raquete com ela. E seria cada cacetada. O Rhamon não ia gostar acho - ele prefere cortar a defender. O Croc faria ele penar. Na hora do açaí, ele iria acabar é tentando comer os cachorros do Jojó. Não ia dar certo. Não ia dar certo mesmo. Se eu ando meio agressivo ultimamente e já até bati na mamãe, imagina ele. Caramba, mãe, cuidado com o Croc.
O papai com certeza, ao ver um crocodilo-eu vagando pela casa, logo de cara elogiaria as roupas. Exclamaria: "Olha aí, gostei de ver! Todo no couro!". E indagaria: "É de quê? Cobra?". Croc daria de ombros; jantaria o bigode mais tarde. A Alinne seria um problema. Se ela pira de alegria quando entra uma borboletinha dentro de casa, imagina um papo-amarelo de quase 3 metros. Mas acho que ela seria a única que poderia realmente desmascarar a coisa toda. Sacar que não sou eu. Perspicácia Interplanetária, é o que ela tem. Só que, de novo: se ela pira de alegria quando entra uma borboletinha dentro de casa, imagina um papo-amarelo de quase 3 metros. Vai nem lembrar de mim.
domingo, 27 de julho de 2008
Dois citados dialogam
Longa vida à contra-erudição.
(Falcão pergunta para Reginaldo)
F: Porque você é desse jeito?
R: Que jeito? Gostoso? Inteligente?
F: Você deixaria uma filha sua namorar com Paulo Maluf?
R: Não tenho filhas. Se tivesse deixaria. Acho o Maluf um gato.
F: Seja franco: para que serve a MPB?
R: Qual MPB? A Música Popular Brasileira, que é para alguns caras metidos, ou a Música Popular Brega, que o povão canta, gosta e dança?
F: Se não dormir, o que gostaria de fazer durante
um show de João Gilberto?
R: Não consigo dormir sem ar condicionado, ou seja, não conseguiria dormir no show. Ele desliga o ar condicionado porque desafina o violão.
F: Você acha que o Fernando Collor é doido ou só diferente?
R: Dr. Fernando? Ele é muito culto, muito inteligente e vê na frente de todo mundo. Pessoas assim pagam um preço alto.
(Reginaldo pergunta para Falcão)
R: Você sabe que eu sou mais bonito e mais culto que você. Por que não pára de ser tão brega?
F: Se eu parar, caio. Mesmo porque, tendo sido criado no mais fino ambiente brega, sou o que há de melhor no universo cafona.
R: O Ceará é uma terra de grandes humoristas. Você é mais arquiteto, mais cantor ou mais palhaço?
F: Sou um fuleiro, o que me capacita a exercer qualquer profissão.
R: Por que eu e você somos os ícones da música que o povo gosta?
F: Porque somos simples como a água e sinceros como um recém-nascido. Além disso, o povo ama nossa beleza clássica e nossa macheza singular.
F: Porque você o é.
R: Por que nos damos tão bem? Será que somos irmãos? Será que meu pai transou com sua mãe?
F: Mamãe é mais nova que você. Mas papai tinha uma jumenta muito bonita que teve um filhote raptado, do qual nunca tivemos notícia. Devo dizer que sempre achei sua voz familiar.
sexta-feira, 25 de julho de 2008
Futebol - A Desfeita
(Breve retomada da série Futebol)
Entrando no msn, abre-se aquela janela "Today" com notícias e outras coisas mais.
Em destaque, na foto maior, estava Robson de Souza. Tristeza. Foi-me um baque. Legenda: "Robinho - Tchau, Pequim". E logo abaixo, em letras menores: "Real Madrid constata lesão e tira Robinho da seleção nos Jogos".
Já ia clicar, mas enxerguei no cantinho, escondido, com as letras quase que pela metade por conta da barra de rolagem, no campo Merece um Clique: "Recorde de passar roupa". Enxuto assim.
Não deu outra. O Internet Explorer não permite abrir em abas. Um teria que vir primeiro.
Perdão, Robinho, perdão.
quarta-feira, 23 de julho de 2008
Admirável Mundo Novo (ou Minha Praticável Utopia)
(Futebol - Intervalo IV)
Lucas, meu caro, se isso lês sem ter lido Arco-íris Olfato, volta e faz. Cito-te ao brincar com a Xelinha. Inclusive, Raf já tinha me alertado de que havia te mostrado o texto e que você tinha se perguntado afinal do que se tratava esse "Ou seja, tenho tempo pra dar aquela revisadinha básica na outra parte que eu mandei pro lucas, que tu tinha comentado comigo." Ciente da cilada, Raf fez o que ele faz de melhor, despistar: dá de ombros, mete a unha do polegar no entre-dentes e balbucia em velocidade que não se sabe dizer se é quase devagar ou imprecisamente rápida, um "Sei lá, mah" - que soa como "êi-lá-má"; sobrancelhas levemente arqueadas, testa franzida, olhos murchos e sem destino, ora no canto ao alto, ora no canto ao chão, ora serenamente incisivos a fitar os do interlocutor, aquele a quem quer enganar. Um semblante de paz. Paulo Altran lá no alto se derrete. "Bravo, Rafael, Bravo!".
Pois é, comentei sim. Xelinha, ná época da tradução, mui desesperada, recorreu ajuda a todos nós miguxos seus de plantão. Não lembro bem, mas creio ter recebido traduções mui variadas em estilo e estética, do Rafa, do Praxedes e tuas. Foi difícil compilar a coisa toda, afinal eu já tinha todo o meu padrão de cores e termos que não deveriam ser traduzidos, os quais mereciam do órgão que faria uso dos manuais a melhor e mais devida tradução.
O que me mais chamou a atenção foram alguns dos lapsos teus. O mais bacana deles se deu numa parte de listagem de itens médicos necessários para um dado setor. Não lembro detalhes, mas era algo como "2 Crashed Boxes" ou "2 Crash Boxes". Você nem pestanejou, meteu logo um "2 caixas quebradas" e foi pra galera. Dei valor.
(Um pensamento me ocorre.)
Mas o que me motiva a falar de/para você especificamente foi algo que me disse em conversa no msn. Transcrevo:
Lucas diz:
ei
Lucas diz:
ma...
th diz:
humm
Lucas diz:
tu mudou um pouco o estilo dos textos do teu blog, né?
th diz:
como assim?
Lucas diz:
tpw... eu ria bastante (...) mas não rio mais tanto
É muito fela mesmo! Haha. Isso porque não trascreverei outros trechos da conversa, cabra pitaqueiro.
E não que esteja eu a obedecer algum de teus pitacos (sou livre, amarras sócio-convencionais não me interessam). Acontece que tu fostes o primeiro a me dar um feedback tremendamente alucinado das Inaugurálias que aqui se fazem, incentivo que muito me cativa - se tem um cara pirando com isso aqui, ou ao menos ensaiando pirar, ou fingindo pirar, o que seja, vale a pena pirar junto.
Agradeço, meu velho. Agora chega. Chega e lê. Que esse abaixo sim é o texto que recebe o título.
***
(Admirável Mundo Novo)
Uma dica de quem se preocupa com o mundo.
Não, duas. Duas dicas.
Vidro quebrado não é para ir direto para o lixo. Fór Gád's Seique, pessoal! Preocupemo-nos com aqueles que, não tão afortunados quanto nós que temos quem nos recolha o lixo todos os dias, têm que em segunda mão recolhê-lo para, com sorte, encontrar algo que se aproveite.
Sempre desvencilhe a cueca do calção. Não custa nada. Não que a lavadeira, a empregada, sua mãe, a matriarca, sua esposa, sua namorada, sua irmã, sua ficante, a outra ficante, sua amante, sua prima, sua tia, ou sua vÓ (!) não terá que por fim ter de cheirar o mijo que é teu, bonitão. Mas, de novo, não custa nada. De preferência, não a deixe do avesso também. Sentir é lembrar, tocar é quase ver, cheirar é como degustar, ouvir é ouvir e não há nada mais abstrato ("A música é a mais abstrata das artes", ouvi Carlos Augusto Viana dizer certa vez). Na cueca toda enrolada há um quê do despir-se teu, animal. É como pessoas que têm nojo de comer panelada, buchada e afins; é a coisa mais gostosa do mundo, há de ser num futuro distante, ou numa praticável sociedade utópica, o que o chocolate é hoje. Mas não, não se come pelo mero resquício factual de que fezes passaram pelas tripas do animal. Isso é bobagem, mas respeito os que o fazem por pensar assim. E por respeitar pessoas com tal (in)sensibilidade é que dou a dica. Sempre desvencilhe a cueca do calção.
segunda-feira, 21 de julho de 2008
Arco-íris Olfato
E como calcinhas me rondam a cabeça, lembrei-me de um email de agradecimento que recebi de minha querida amiga Xelinha (VI Post Inaugural). Ela, engajadíssima graduanda em Odontologia pela Universidade Federal do Ceará, recebeu como tarefa ter de traduzir do inglês alguns manuais.
Fazendo curta história longa, o trabalho de corno sobrou mais para mim. Ralei. Quase que morro. Favores com prazo são uma merda. Dá-se nó em não sei que parte das emoções. É uma vontade de demonstrar/fazer valer a amizade pela trabalheira, ao mesmo tempo que incendeia dentro um anseio por turn the foda-se on - não seria o meu na reta mesmo. E traduzir é uma tarefa deveras árdua, porque enquanto o entendimento de dados trechos pode vir fácil, tremendamente difícil pode ser a transcrição para palavras do idioma-destino. Ou o contrário: trechos de difícil entendimento, que muito exigem pesquisa para tradução, escritos com palavras muito naturais no outro idioma.
Ela notou. Aqui o email:
Thithizinhu querido! Não tenho palavras pra descrever minha gratidão pelo que tu fez, thithizinhu!!! Sei que você perdeu a tarde inteira fazendo o resto da tradução que eu mandei pra ti (aquilo tudinho de verde), corrigiu algumas coisinhas nas 6 primeiras páginas e ainda deu uma pincelada no restante do arquivo. Meu amiguinho, tu não tem noção o quanto eu estou agradecida. Tipo, eu sei que não deu pra tu ajeitar tudo, mas do que eu tinha te pedido tu fez foi mais do que o impossível! E, ei, recebi um email do matheus dizendo que ele queria as traduções para - pasme - até o fim de janeiro! Ou seja, tenho tempo pra dar aquela revisadinha básica na outra parte que eu mandei pro lucas, que tu tinha comentado comigo.
Só para constar, até agora ganhei só uma pulserinha de borracha. E, não, ela não tem cheiro.
segunda-feira, 14 de julho de 2008
Futebol - Anotações III
Setembro tem equinócio. Ou solstício, não lembro. Isso é importante. Procuro por criatividade, algo inusitado. Ela diz que não precisa. Sacanagem. É fácil fazer gol com com o Eto'o, ou com o Saviola, no cara-a-cara com o goleiro. Quero ver Pitu balançar a rede. No meu time, Pitu é titular.
Futebol - A'rte'm torcer
(Breve histórico de um ex-torcedor)
Quando era pequeno eu torcia para o Ceará. Para o Ceará e para o São Paulo. Eu era um torcedorzinho fanático. Tinha camisa do São Paulo, número sei lá qual, e frequentava os estádios nos jogos do Ceará. Estive inclusive num dos jogos de maior público do estádio Castelão, Ceará X Grêmio, final da Copa do Brasil de 1994.
Meu irmão torcia para o Palmeiras. Tenho certa lembrança da final do Brasileirão de 1994. Lembro da taça. Pesquisando aqui, vejo que a final foi contra o Corinthians. Palmeiras campeão. Assistimos a esse jogo. Não lembro onde estava minha paixão pelo São Paulo. Tornei-me Palmeirense.
Não sei como se deu esta mudança, mas meu irmão passou a torcer para o Corinthians. Não deu outra, acompanhei. Tornei-me Corinthiano.
Era eu um legítimo alvinegro então. Ceará e Corinthians.
Não sei como ou quando, deixei de acompanhar as pelejas locais. Apaulistanei-me. Só Corinthians me apetecia.
E como apetecia.
Mas deixou de apetecer. Acompanhei como fiel torcedor sua trajetória só até os idos de 2000, ano do controverso título mundial. A campanha de vice-campeonato no Brasileirão, contra o Santos, eu até vi mais ou menos, em 2002.
Em 2004, tive uma recaída e acompanhei com afinco a trajetória ao título paulista. Até ganhei 5 reais numa aposta contra um amigo são-paulino.
Em 2005, passei a dizer-me torcedor do Fortaleza, mas só por conta do retorno à série A e deixava isso bem claro. A intenção era de, de certa forma, "apoiar" (embora quem de fato faça isso seja quem torce período integral, seja na boa ou má fase) o futebol local. Valorizar a conquista. Mas nunca acompanhei deveras.
***
(Saudosimos)
Sinto falta da paixão cega de quem torce. Sinto falta de defender a todo custo essa paixão. Sinto falta da angústia da derrota, do empate apertado, da vitória difícil. E sinto falta de preferir não sentir essa angústia, de torcer pela vitória fácil, querer sempre goleada.
Vez e outra, engano-me com uma pontinha do sabor.
Sinto falta de ser torcedor deveras.
***
(Fatos)
Dizia-me corinthiano mas torci por sua queda à segunda divisão. Só pelo inusitado da situação.
Apaixonado pelo Ceará quando pirralho, eu vibrei com a subida do Fortaleza. Idem.
Ensaio até hoje dizer-me torcedor do Ferroviário. Só por causa do que certa vez li escrito por Falcão (esse não, esse) na orelha de um livro sobre o time. Não lembro bem, mas era algo sobre a famosa formação tática de "ataque em xis e defesa em zigue-zague". Tudo pelo inusitado.
Acho que gosto mesmo é de teimar.
(Ou, para manter a entoada, "gosto mesmo é de teimar deveras".)
***
(Porque violência também é arte)
Ouvi de um professor de história meu certa vez que "muito ganharia o Brasil se extinguissem os estádios, as igrejas e a televisão". O comentário tem lá sua graça e faz lá sua crítica, mas, convenhamos, é tão tendeciosamente polêmico quanto absurdo. Não falo pelos aspectos religioso e televisivo (essa série de textos chama-se "Futebol"), embora pudesse; discordo da frase inteira.
Não tenho certeza, mas creio que o professor até fez uso de um dos mais imediatos dos trocadilhos, "Torcida Des-organizada". E falou de violência, brigas dentro e fora dos estádios, do ódio cego e imbecil que alimentam torcidas rivais, mortes, tragédias. A platéia pueril concordamos quase que totalmente em tudo que nos era lecionado. Anotamos no caderno, logo abaixo do título "Feudalismo", "muito ganharia o Brasil se...". Brinco, nada foi anotado. (Isso me lembra daqueles que pregam que nosso país não é sério, porque "onde já se viu uma nação parar por uma semana inteira em feriado?", mas morrem de beber e fazer tudo quanto é marmota durante todo o "vergonhoso" carnaval.)
O raciocínio do catedrático peca pela pressa, por interferência do gosto pessoal e por espontânea vontade (ele bem quis fazer polêmica só pelo sabor de defender uma causa absurda). Pois, alegando motivação semelhante, pode-se defender a proibição do uso de automóveis. Pode-se proibir o cigarro (olha só...), as bebidas alcoólicas (não!) e, com um pouco de catimba, legalizar a maconha. Pois o Brasil muito teria a ganhar se anulados fossem os acidentes de trânsito, os malefícios do tabaco e do álcool, e se permitido fosse fazer uso das propriedades psico-terapêuticas da erva... Com argumentos absurdos chega-se a qualquer lugar. "Dá-me um ponto de apoio, que erguerei o mundo!"(definitivamente, não sou bom com dizeres...).
Os criminosos também amam. Os criminosos também choram. Os criminosos também torcem para times de futebol. E choram, porque torcem para times de futebol; torcem para times de futebol, porque amam; amam, porque choram. Ou é tudo ao contrário; sei lá quem é quem nessas causas-e-efeitos. Os maus-caracteres também têm a benção do livre-arbítrio. Por isso torcem; por isso podem vir a se tornarem criminosos.
A violência nos estádios se deve aos maus-caracteres das arquibancadas da vida.
Podem então indagar quanto aos jovens torcedores de boas famílias, com bons históricos escolares em boas escolas que, fisgados pelo temeroso nevoeiro do qual se munia com estatísticas meu professor, explodem bombas, jogam pedras, disparam tiros e matam. Entristece-me também. Digo apenas que tais acontecimentos não se dão por culpa dos estádios (ou da religião, ou da televisão...), logo não seria cabível estingui-los por busca de uma solução.
E digo: numa sociedade de praticável utopia, as cadeias seriam igualmente abarrotadas como hoje elas são. Pois ainda se mataria por amor, por ciúme, por ódio, por paixão. Ainda se roubaria por inveja, por ganância. Todos são sentimentos sinceros e naturais do homem. Escapar disso é morrer.
Conecto e adapto dois trechos para resumir em conclusão. A culpa não é dos estádios, palcos do mundo; a culpa é dos maus-caracteres das arquibancadas da vida.
quarta-feira, 9 de julho de 2008
Futebol - Acréscimos
Existe um quê de magia nas coisas que acontecem nos acréscimos. É como o estudo em cima da hora, na super-véspera da prova. A urgência do tempo que se encerra clama por definição, seja ela uma formuleta mal decorada que salva uma questão inteira ou um desesperador passear de olhos por folhas e folhas que não constata muito além do óbvio e trágico fim - o que, futebolístico-equivalente, seria: um gol daqueles que desvia de leve no zagueiro ou o correr esperançosamente temeroso e arriscado do goleiro que vai à área adversária.
O estudo de véspera (falo do estudo de véspera, mas não do d'aqueles que manjam, aqueles que estão só a dar o que seria uma leve revisada para quem já estudou muito mais) e as partidas de futebol em seus derradeiros minutos carregam como pesada cruz a dupla faceta que dá alma ao teatro e a quase tudo na vida, o riso e o choro. É um tudo ou nada todo vacilante, nada definido. Dúbio. Débil quando pouco se consegue aproveitar. Mágico quando muito se aproveita.
Falando em acréscimos e "um gol daqueles que desvia de leve no zagueiro" e "mágico quando muito se aproveita", chego ao que de fato me motivou a escrever sobre o assunto. De novo, Turquia. De novo, Turquia X Croácia. Gol aos 16:16 do segundo tempo de uma prorrogação com tempo de acréscimo de 1 minuto é algo que por definição, convenhamos, não existe. Faz a continha, não existe. E ainda mais do jeito que se deu. Uma falha do goleiro Rüştü (não me perguntem como escrevi esse s com cedilha, trapaceei) acarretou em gol da Croácia aos 13 minutos do mesmo período. Juro que me doeu a alma; a Croácia jogou muito, mas a Turquia havia dominado freneticamente a partida inteira. Tomar um gol dessa forma e só restando 3 minutos para a decisão nos pênaltis é coisa de encabular Allāh. Mas, sem essa, pouco antes dos cabalísticos 16:16, Rüştü, quase no meio de campo, sapeca um chutão que faz a bola parar lá na casa do chapéu dentro da área adversária; daí, paulada, desvio e tchau. (Em imagens.)
O interessante é que um gol tão urgente assim só aconteceu por conta do gol tomado; provavelmente, se não fosse o gol croata, a partida, sem mais muitas emoções, iria naturalmente para os pênaltis. Sou bom em usar dizeres de forma errada (às vezes, costumo dizer "colher de madeira, espeto de pau" e aplicando ainda o que seria o ditado certo na situação um tantinho errada) e essa situação me parece ser uma variação um bocado torta do "a ocasião faz o ladrão". Ou de, como canta Nando Reis em "Hoje mesmo": "O filho (é quem) cria a mãe".
E não deixa de ser o bom e velho "não desistir" em sua mais pura essência. Sei que é difícil, mas é importante não deixar de escorregar os olhos por todas aquelas folhas, mesmo quando a vontade é de entregar logo tudo a Deus (ou a Allāh), pois, eu nunca vi, mas pode ser que o goleiro, baixinho que seja, desesperadamente desacreditado suba mais alto e cabeceie a pelota gordinha para os fundos do maleável quadriculado.
Tem gol que não existe, mas vale mesmo assim.
segunda-feira, 7 de julho de 2008
Futebol - O Fim (Outro pê-éssi)
Ainda Ronaldinho, ainda arte. Os primeiros 20 segundos bastam.
Futebol - O Fim (Um pê-éssi)
Em tempo, Ronaldinho Gaúcho é arte, pois, convenhamos, malabarismo é arte. Do Garoto Messi só se vê uma balangada no saco, aos 15 segundos de vídeo.
Futebol - Anotações II
(Caderninho, dia 22 de junho do ano passado - noite)
Aprendi algumas coisas jogando futebol. Coisas da vida. Não que as tenha compreendido. Aprendi a senti-las. Ou era só cansaço, não sei.
domingo, 6 de julho de 2008
Futebol - Anotações I
(Caderninho, dia 22 de junho do ano passado)
A bola é velha e o gramado já não há (ou nunca houve). Um garoto. Magro, moleque, suado, sem camisa. O pé pisa a poeira, que levanta. É diferente da bola high-tech que rola macia num gramado de um estádio que suporta oitenta mil pessoas. É diferente do homem. Forte, tático; suada é a camisa do logotipo que patrocina. A chuteira arranca um tufo da grama. É diferente demais. É como o sol ao longo do dia. Pronto, está explicado.
sábado, 5 de julho de 2008
Futebol - O Fim
No dia 19 do mês passado, Airton Monte publicou "Necrológio".
Começa com:
"De uma coisa infelizmente estou certo e muito me dói dizê-la: o futebol-arte está agonizando, está às portas da morte. De nada adianta vir com lamúrias, desculpas esfarrapadas, elocubrações táticas, botar a culpa nas patas dos técnicos ou no lombo dos jogadores. A grande verdade, embora alguns possam me considerar pessimista ou um renitente purista congelado no passado, é de que não há mais craques filigranando pelos gramados do mundo. A era dos virtuoses da bola acabou-se e estamos vivendo e sofrendo na pele a infeliz e tosca era dos bonzinhos. "
E termina num:
" O futebol está cada vez mais se tornando um jogo sem graça, não se vê mais espetáculo, mas somente uma triste caricatura do que foi em tempos idos. Entanto, estou conseguindo, com muita dor, deixar de enganar a mim mesmo por um ou outro raro lance excepcional, que são cada vez mais raros. O futebol virou 'ouro de tolo' e nossos craques vivem de aparências feito fantasmas que ainda não acreditam que já estão mortos e enterrados."
(O resto dessa crônica, e todas outras publicadas em sua coluna no caderno Vida & Arte do jornal O Povo, pode ser lido neste link. Recomendo leitura posterior de "As Palavras" - 17/06. É um inspirador incentivo a todos aqueles que se aventuram a escrever.)
Dada a força das palavras do poeta, não consegui deixar de concordar em tudo que vi ali escrito (deixo-me levar fácil se é belo e me cativa). Tanto concordei que, finda a leitura, olhei para o vazio entre mim e os objetos a minha frente e tudo insurgiu tão profundamente verdadeiro que segurei por uns instantes a interjeição "égua" na mente enquanto observava o vazio cada vez menos vazio (o vazio a esvaziar-se) e os objetos - seja lá o que isso signifique - cada vez mais objetos. Tanto concordei que, finda leitura, bem poderia ter dito "que descanse em paz" e baixado a cabeça enquanto, de olhos fechados, fizesse o sinal da cruz.
Mal sabia eu o que me aguardava no dia seguinte.
Dia 20, Turquia X Croácia. "Puta jogaço" seria suficiente dizer, se não estivesse escrevendo. Mas já que escrevo, me pergunto, aquilo não é futebol-arte? Não é? O que é aquilo? Não sei e não me arrisco. Só sei que me bateu uma frenesi enquanto assistia àquele jogo que de imediato me fez repensar (n)o que lera na véspera. A Turquia joga diferente. É rápida, a plenos pulmões, com vigor e vontade. "Bla, mas não tem arte!" podem dizer, e eis que surge sozinha, sem o meu intervir, a pergunta: E o que é arte? "Arte é Ronaldinho Gaúcho" dirão, ao mesmo tempo que alguém pipoca um "nada, aquilo é malabarismo"; "Arte é Falcão nas quadras de futsal", vá lá, dirão "idem, malabarismo"; "Arte é Zidane, que mata no peito enquanto corre a toda e gira para dominar a bola, dá um passe de 40 metros ou acerta no ângulo e de primeira um chute cavalar que Einstein profetizou só 2% da humanidade ser capaz de acertar" eu diria, mas alguém rebateria "Zidane é um careca cabeçudo". Tudo bem, deixa estar. Mas, se não é arte aquilo que a Turquia fez nesse e noutros jogos, é outra coisa que, difícil de ler, só se fala em turco, mas que, se traduzida para o português, não faz surgir outra palavra que não a que se negou. Arte, meus caros. Arte.
terça-feira, 1 de julho de 2008
Caralhamba
(Texto para um concurso da revista piauí, tal qual o em "Os arpejos de mamãe...". A frase proposta desse eu digo ao final, para que não se condicione a caçá-la.)
“Som, ei, som”. Um estampido oco sai da caixa de som mais à direita. “Som, ei, ei. Marquinho, você escuta daí?”. Microfonia, caretas, nova microfonia.
Era um leilão dessa vez. Leilãozinho na verdade, e de mentirinha para ser mais exato. Marcos – o Marquinho ao qual se referiu o senhor que faria as vezes de leiloeiro, seu pai – cuidava da mesa de som, que emprestara para a festinha no colégio da irmã. Certamente esse seria o pior negócio do mês. O aluguel da aparelhagem, por ordem da mãe, teria preço tão simbólico que realmente parecia um empréstimo; um empréstimo a troco de fatias de bolo, refrigerante e salgadinhos. “Queria ser caçula”, repetia mentalmente sempre que se via refém das vontades da coisinha-linda-do-papai. Papai este agora bravo ao microfone: “Marquinho, dá pra ouvir ou não dá, porr...”. Percebendo a tempo o xingamento descabido para a faixa etária local, ensaiou uma mudança brusca: “...rawl, rau, raô, a-ô, som. Ei, som”. Baixou os olhos abanando a cabeça com um riso contido enquanto recebia a resposta afirmativa do filho, que erguia os dois polegares para o alto e sorria largo, apreciando a gafe disfarçada com maestria. “Aprende, filhão”, sussurrou o pai; não mais disfarçava o sorriso, mostrando dentição igual a de Marcos. Toda a excitação do pai o fazia lembrar um amigo que imitava muito bem um leiloeiro de gado de um canal na tv; nada elogioso, fazia mais por chacota.
Na verdade, ele implicava com leiloeiros; apreciava mais os falsários e tinha lá seus motivos. Contara para Marcos certa vez a sua versão de um ocorrido um tanto constrangedor - coisa besta, mas que teve repercussão na imprensa local e quase intervenção da polícia. O pai e o tio do rapaz estiveram envolvidos com o lado criminoso da história, que combinava intrigas pessoais, relógios coreanos e um pai de santo mal-intencionado. Os acontecimentos eram confusos, mas ficava clara a não inocência dos dois. Mesmo assim, o amigo tendenciosamente os defendia e...
A lembrança lhe foi quebrada pela tosca imagem de uma menina tentando matar outra lhe puxando os cabelos. Apressou-se tomado pelo susto de reconhecer a própria irmã na cabeça que balançava de um lado para o outro, guiada pelas mãos vorazes da amiguinha. Num tabefe rápido – ao estilo “pedala” – e com uma puxadinha de cabelo que ergueu a cabeça da agressora, conseguiu a distração que queria para arrancar a pequenina vítima do perigo. Por sorte, nenhuma mãe percebeu aquele bravo irmão em ação; se muito, viram apenas o rapaz da mesa de som com pressa carregando um pacote todo assanhado no colo.
Passado o susto, a paz; criança se distrai fácil. Após o arremate do último item, o pai de Marcos, ainda empolgado com o próprio desempenho, apontando para o filho e sem se desfazer da voz empostada, sentenciou o início da festinha: “Solta o som Dj!”. Ao se virar para sair de cena, tropeçou no cabo do microfone e proferiu uma segunda sentença: “Caralh...”. Essa não deu para disfarçar. Todo mundo percebeu.
“Caralhamba” não existe.
(A frase era "ele implicava com leiloeiros; apreciava mais os falsários".)