Vou manter um diário. Bem, quero. A exemplo de todo o resto, meu passado denuncia, não vai ser das tarefas mais fáceis. Mas é necessário, por mais desacreditado que eu agora esteja. A escrita, enquanto ofício - e, no fundo e na superfície, até já soltei para uns mais chegados e outros não, almejo o estrelato literário (e que mesquinho isso soa, além de ingênuo) -, não é diferente das outras carreiras ou planos ou projetos, falta-me precisão com as palavras agora, mas não é diferente. Exercício (escrevi "Ecervívio", digitando sem olhar), necessita exercício (dessa vez, "exerc´icio"). Planejo o naufrágio do Inaugural, meu blog, que já ostenta no subtítulo o quão imperfeitas já percebo minhas criações, "caderno de exercícios" há lá. Mero exercício. E acho que estou sendo exigente demais. Que a rotina e a disciplina me tragam resultados melhores que espasmos poéticos tão espontâneos quanto incertos; quero encontrar-me nas palavras, de maneira tal a reconhecer-me, sem medo, sem vergonha, e sem arrependimento - pois não planejo o naufrágio do inaugural? E acho que, sim, estou sendo exigente demais. Isso não existe. Digo, é irrealizável. Pode existir enquanto meta, suportarei a frustação de só correr sem atingir? Pelo menos a proposta de diário poupa-me do sofrimento de voltar atrás ou de me contradizer em público - como se fosse público o virtual - e uso da palavra sofrimento como se embaraço já não servisse. Se a vida fosse uma linha esticada e nós representassem os momentos em que se vive e se retorna a um ponto antes já conhecido - um círculo, um grande aro, a cobra que morde o próprio rabo, a chegada ao ponto de partida, substituídos pela ida e vinda de um nó, pois que a vida em linha é tal que 24 horas de uma situação assim não passa de um nós dos mais apertados -, sinto que minha linha seria um emaranhado de nós sobre nós, um novelo por assim dizer, porque, percebo, essa discussão, pular de um blog para um diário, eu já fiz quando pulei do nada para um blog, coisa de abril do ano passado. O que está em pauta é a exposição. Não sei em que nível, em todos eles, talvez. O entrave é mostrar quem sou, descobrir quem sou ou... o entrave é meu? Mesmo assim, creio não adiantar muito eu encontrar um culpado. Que seja. Escrever, pensar, viver, atar e desatar e de novo atar para melhor entender os nós, vale o exercício...
22/07/09
23/07/2009
Eu conto os dias como quero, é meu o diário. Continuidade à minha maneira, com intervalos; este Dia 3 não é o cheio de acontecimentos dia 24, em que... e não, cheio de acontecimentos foi o dia 23 e de novo agora se dá a pergunta, fatos ou idéias? Porque o que acontece se eu me esquecer desses tão bons acontecimentos, desses dias tão cheios?, gostaria que eles me definissem; gosto que eles me definam, porque, sim, eles me definem. Não que eu esteja a supervalorizar o registro, mas, se estou a registrar, que seja algo de muita valia. Quero lembrar disso, todas essas dúvidas mal remoídas e passageiras e incertas como minhas convicções? (O pior, sim, quero, e quero tudo. E acho lindo tudo isso querer e não poder, e não há nada de errado nisso. Estou muito contente. Estou de novo a admitir que belo é como é, porque é, e não há outra maneira que não a que se deu - porque sim, porque não - e sinto que nada mais que eu escrever fará algum sentido.)
Quando esqueço que escrevo por exercício, percebo que substituída é a pergunta por que escrever por para quem escrevo, e me vejo muito 'eu', com nome, personagem de situações; lugares que de fato existem, meu deus, há outros seres lá!, como dizê-lo? De maneira muito incerta falo por mim: muito me parece errado então falar aqui a voz que não me pertence, como se minha fosse a voz que aqui se faz. Um dia lerei tudo novamente e não sei: não mais saberei ler estes dias escritos, ou ao ler, novamente estarei a escrever? Novamente? (Alguém que não eu conseguiria dar forma, nova voz ao que escrevo? Pelo jeito, a pergunta sempre é "para quem".)
28/07/2009
22/07/09
Em uns três momentos no dia lembrei de ter começado um diário, e quis logo desenvolver em palavras os possíveis assuntos. Por que isso? É o segundo dia e tudo ainda é novidade? Daí me pergunto, este é um diário de acontecimentos ou um diário de idéias? E a resposta imediata que me vem é não há por que não atrelar os dois. Viver é isso, fazer e pensar. Ou fazer sem pensar. Ou pensar e não fazer. Mas sempre ação e atuação; que por atuar se entenda fingir, pois que a ação é o fato, a atuação o que se premedita, o pensamento pois. É um mal isso meu de tentar ser absoluto. Às vezes não quero deixar as coisas serem do jeito que elas querem ser. E nem sei bem se isso se aplica ao assunto, mas é como eu quisesse "domar" o diário, como se um diário não fosse simplesmente isso de escrever coisas e sobre as coisas. Tenho sempre que dedicar algumas sinapses, algumas palavras, rascunhar o rascunho, e, pensando bem, isso não é de todo ruim; é uma virtude, talvez. A tudo um pouco atento, uma virtude, é, é.
23/07/2009
Eu conto os dias como quero, é meu o diário. Continuidade à minha maneira, com intervalos; este Dia 3 não é o cheio de acontecimentos dia 24, em que... e não, cheio de acontecimentos foi o dia 23 e de novo agora se dá a pergunta, fatos ou idéias? Porque o que acontece se eu me esquecer desses tão bons acontecimentos, desses dias tão cheios?, gostaria que eles me definissem; gosto que eles me definam, porque, sim, eles me definem. Não que eu esteja a supervalorizar o registro, mas, se estou a registrar, que seja algo de muita valia. Quero lembrar disso, todas essas dúvidas mal remoídas e passageiras e incertas como minhas convicções? (O pior, sim, quero, e quero tudo. E acho lindo tudo isso querer e não poder, e não há nada de errado nisso. Estou muito contente. Estou de novo a admitir que belo é como é, porque é, e não há outra maneira que não a que se deu - porque sim, porque não - e sinto que nada mais que eu escrever fará algum sentido.)
Quando esqueço que escrevo por exercício, percebo que substituída é a pergunta por que escrever por para quem escrevo, e me vejo muito 'eu', com nome, personagem de situações; lugares que de fato existem, meu deus, há outros seres lá!, como dizê-lo? De maneira muito incerta falo por mim: muito me parece errado então falar aqui a voz que não me pertence, como se minha fosse a voz que aqui se faz. Um dia lerei tudo novamente e não sei: não mais saberei ler estes dias escritos, ou ao ler, novamente estarei a escrever? Novamente? (Alguém que não eu conseguiria dar forma, nova voz ao que escrevo? Pelo jeito, a pergunta sempre é "para quem".)
28/07/2009
3 comentários:
sem querer interromper a espontaneidade criativa, mas escrever sobre escrever tanto assim pode afrouxar um pouco o nó!
Sobre o dia 22 - Sabe, o Doug Funnie teve uma influência voraz na minha vida, tive uns 3 diários depois que descobri, através dele, que diário não era só coisa de menina, deve ter sido o machismo bobo que o cearense tem. Segundo Durkhaim, deve ser a coerção social agindo sobre mim. Depois dele, o Doug, não o Durkhaim, desemboquei a escrever e nem parei mais, de vez em quando, aqui acolá, um nó interrompe o caminho. Tinha um nó no meio do caminho, no meio do caminho tinha um nó. É bom te ler assim, te ler descomedido, sem medo de escrever qualquer coisa que possa parecer asneira. E se for, qual o problema? A vida não é só filosofia ou mesmo das coisas mais banais pode-se extrair a pureza da poesia. O mais importante já foi feito: abrir a tampa do poço e cair, cair, cair, porque no dia em que o fundo chegar, não mais haverão nós, não mais haverá poesia, nem cheiro, nem dor, nem nada...
Escreva, amigo. esCRÊva!
Danilo.
mesmo assim, cuidado pra não sair dando nó cego, filho
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