Duas perguntas me engasgam. Apertam-me o pescoço, uma de cada lado, em xis: como tesoura que, num outro plano, sou eu mesmo quem manuseia; para ferir ou para ameaçar; já quase me enxergo, e sinto às vezes que sim, que me vejo, de frente, aproximando o polegar ao indicador, os dois enfiados nos círculos errados do cabo da tesoura, porque sou canhoto. É tesoura, mas bem poderiam ser lanças e mais lanças e espadas e adagas de interrogações tantas que me afligem; mas não, é tesoura, pois que são duas somente: das perguntas laminadas, interrogações tantas, escrevi, sobraram-me os furos, os cortes, os arranhões, as marcas e as cicatrizes; destas duas não, sou Prometeu acorrentado, sinto-as sempre; às vezes, só muito de leve é que me tocam, uma de cada lado do pescoço, pouco as sinto, mas arde-me o vinco - pouco sentir não é não sentir, ardor também é dor; às vezes, tão apertado elas me engravatam, que me beliscam o gogó.
As perguntas são "para quê?" e "para quem?". E um mundo inteiro parece se fazer abrir ao mesmo tempo que se encerra em si mesmo. Falar de amor não é amar. As coisas não poderiam estar mais claras agora. Acabei.
**
Quando esqueço que escrevo por exercício, percebo que substituída é a pergunta por que escrever por para quem escrevo, e me vejo muito 'eu', com nome, personagem de situações; lugares que de fato existem, meu deus, há outros seres lá!, como dizê-lo? De maneira muito incerta falo por mim: muito me parece errado então falar aqui a voz que não me pertence, como se minha fosse a voz que aqui se faz.
Um dia lerei tudo novamente e não sei: não mais saberei ler estes dias escritos, ou ao ler, novamente estarei a escrever? Novamente? (Alguém que não eu conseguiria dar forma, nova voz ao que escrevo? Pelo jeito, a pergunta sempre é "para quem".)
As perguntas são "para quê?" e "para quem?". E um mundo inteiro parece se fazer abrir ao mesmo tempo que se encerra em si mesmo. Falar de amor não é amar. As coisas não poderiam estar mais claras agora. Acabei.
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Quando esqueço que escrevo por exercício, percebo que substituída é a pergunta por que escrever por para quem escrevo, e me vejo muito 'eu', com nome, personagem de situações; lugares que de fato existem, meu deus, há outros seres lá!, como dizê-lo? De maneira muito incerta falo por mim: muito me parece errado então falar aqui a voz que não me pertence, como se minha fosse a voz que aqui se faz.
Um dia lerei tudo novamente e não sei: não mais saberei ler estes dias escritos, ou ao ler, novamente estarei a escrever? Novamente? (Alguém que não eu conseguiria dar forma, nova voz ao que escrevo? Pelo jeito, a pergunta sempre é "para quem".)
Um comentário:
Acabou nada. Mal começou. Seria bom se pudéssemos ser todos matemáticos, apenas. Mas há sempre resultados indefiníveis nessa nóia toda que batizaram de "vida". E encruzilhadas são espécies planos cartesianos, pena são do tipo nada práticos, diferente do que a gente aprende na escola. Essas retas perpendiculares se encontram e, pior, se perfuram, daí jorram vários porquês que se ramificam noutros porquÊs. É um caminho sem volta. Reta perfurada, jamais é cicatrizada. Acabou. Acabou? Acabou nada...
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