Durante o ano passado, a revista piauí promoveu em cada uma da suas edições um concurso literário do tipo "encaixe a frase". Ela propunha uma frase um bocadinho inusitada e os participantes se aventuravam em montar um textinho bonitinho e cheirosinho que a contivesse. Frases do tipo "Mas Alice, eu já disse que não sou mitômano!", "O gongo bateu na lateral da locomotiva e nenhum passageiro arriscou um pio" e “Não vou tolerar este tipo de agressão, ainda mais levando em conta que meu tio é ventríloquo!" foram algumas das propostas ao longo da ano. No site da revista eles destacavam 5 textos (1º ao 5º lugar); o 1º colocado tinha seu texto publicado na revista (glória máxima, irmãos!). Participei de dois concursos, o de frase "Ele implicava com leiloeiros; apreciava mais os falsários" e o "Os arpejos de mamãe me levaram ao suicídio". Não, não atingi a glória máxima - nem a mínima (o 5º lugar). É, a vida é dura. Mas o importante é ser feliz e... tá, a vida é dura.
Da frase segunda o que me saiu foi isso daqui:
Ida
Minha mãe completou 40 anos e fez uma baita festa. Nesse dia, ouvi de muitas bocas embriagadas – que claramente já haviam também ultrapassado a cota de quatro décadas – o famoso mote que prega como verdadeiro início da vida o dobro da minha idade.
Motivada por um não sei o quê, que até pensei ser o álcool – não era, aquilo reapareceu mesmo depois da ressaca do aniversário –, agora ela age diferente: quadragenária, passou a praticar Yoga e a freqüentar academia, desmantelou a própria rotina, quer cursar arquitetura e aprender a tocar um instrumento musical – comprou um teclado. Desfez-se do namorado antigo e arranjou um outro. Mas já se desfez deste último e inicia algo parecido com uma coleção, pela qual já passaram o professor de música e o jardineiro.
Não há clareza em minha motivação, mas sinto que não minto nestas palavras. Sim, os arpejos de mamãe me levaram ao suicídio, bem como as roupas de ginástica, os passeios no jardim, os vestidinhos curtos, os gemidos e sussurros, os restos de vômito à borda do sanitário; pois tudo isso são grãos de um pedregulho maior.
Mamãe no terraço saúda o sol. Eu me despeço. No bilhete que fica, minto para que ela siga sem culpa a vida que mal começou.
sexta-feira, 9 de maio de 2008
Os arpejos de mamãe...
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2 comentários:
e ai, como é q tatu? tatu tá bem? :)
(a flavia ali era eu i.i)
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