Noite dessas me deparei com o que seria uma cena fantástica: sete coelhos na calçada.
Dirigia sozinho num trânsito de início de noite onde tudo era luz de postes e faróis. Nalguma hora daquelas que a fila não andou foi que os vi. Não acreditei. Todos lá, alvinhos. Pareciam querer atravessar a rua.
Coelha-mamãe à frente e seus seis filhotes pequenos. Bolotas brancas de uma brancura nada vermelha em meio a tantas luzes vinho-rubro-enegrecidas: eram-me o repouso dos olhos e do espírito. Deus queira eles ainda estarem lá quando eu passar.
Deus quis e não quis.
O mundo não poderia estar assim tão mudado. A vida dá limões aos montes quando se quer gotas de mel. Não ia ser dessa vez diferente.
Os ventos movem-lhes as orelhinhas, que na verdade são alças. Sem mais arrodeios, meus coelhos estão podres por dentro como minha cidade está podre por fora; o olhar cansado de um motorista míope não haveria de encontrar nada além de uma sempre azeda confusão de formas e cores. Bem intencionado que fosse. Eram sete sacos de lixo.
sexta-feira, 12 de dezembro de 2008
Mimética Urbano-Moderna
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3 comentários:
Engraçado... alguém que eu enxergava como um exímio matemático, revelar-se como um grande escritor. Acabas de ganhar um novo leitor Thiago! Entrei por curiosidade, ( a Richelle me falou dos teus textos) e sem querer fiquei duas horas aqui lendo.
Ganhei em dobro!
Li textos excelentes (crítica irrelevante vinda de um leigo)e ainda senti certa nostalgia, liana, Pv, papos sobre playboy,as famosas, e não menos cômicas, aulas do Juarez Leitão e do Carlos Augusto... nossa o tempo passa!
um grande abraço!
Pedro Everton
Eu gostei da primeira versão, enquanto acreditávamos que eram coelhos... queria ter deixado de ler antes de descobrir que eram sacos.
pedro:
Quem ganha sou eu, rapaz. Porque 'exímio matemático' e 'grande escritor' não são títulos que se recebe todo dia. Por essas e outras é que sou uma farsa. :D
raquel:
Reli. E concordo. De verdade, concordo. A coisa toda pede um final feliz. Queria eu também não saber que são sacos ao mesmo tempo que queria não saber que queria não saber que são sacos e não estou a errar a digitação. O que quero dizer, antes elogio que ofensa: queria eu não ter lido seu comentário. Faz-me de fato querer escrever uma história sobre coelhos.
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