sexta-feira, 10 de abril de 2009

Rude

Sou o couro chupado daquele que fui. Sobra-me pele e osso de o que eu era e meus atos ficaram nas carnes que não há mais.

O que me for atribuído mente. Meus olhos escovados não.

Sou dobras na pele seca, sou manchas nas dobras engilhadas.

Corto-me sem sangrar. Um leve talho a se abrir é pele com pele que se desprende. Penso estarem felizes as bordas, que da vida se despedem. Conquistam o que já conquistei. Ocas.

Sou a fumaça dos vários tragos que me ocupam a boca e os dias e em que me disfaço no ar.

Um jovem me oferece lugar no metrô, no ônibus, no meio-fio. Tenho preferência porque estou meio-morto.

Queria ter dito, como que me impacientasse, "Não me pertube o juízo". Mas não me pertuba o juízo. Porque me falta o juízo. Falta-me a falta. Sobra-me todo o resto, justo o que sou.